A 6ª Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente (CNIJMA), realizada em Luziânia, Goiás, chegou ao fim, e seus jovens participantes retornaram para casa após cinco dias de intensa programação. Durante o evento, eles se envolveram em debates, gincanas, palestras e oficinas temáticas, além de desfrutarem de atrações culturais. Ao concluírem a conferência, as crianças e adolescentes não levaram apenas experiências enriquecedoras, mas também a “Carta Compromisso das Crianças e Jovens pelo Futuro do Planeta” e outras propostas de justiça climática. Este documento vital será entregue à COP30, que ocorrerá em Belém, como um símbolo do engajamento juvenil na pauta ambiental. A iniciativa visa, acima de tudo, ressaltar a necessidade premente de combater a injustiça climática, um problema que afeta desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis do Brasil, manifestando-se em eventos extremos como chuvas intensas, secas prolongadas e ondas de calor.
Vozes da Juventude pela Justiça Climática
Lara Guimarães Silva: Saberes Ancestrais e Respeito à Natureza
Vinda de Itapemirim, Espírito Santo, Lara Guimarães Silva defende a inclusão dos saberes e práticas ancestrais nas soluções globais para o meio ambiente. Para a jovem, estas tradições podem restaurar o respeito pela natureza e, por conseguinte, promover a equidade de oportunidades. Ela enfatiza que as comunidades tradicionais, apesar de contribuírem minimamente para as mudanças climáticas, são as mais atingidas pelos seus efeitos. Lara, que tem 13 anos e foi criada na comunidade quilombola de Graúna, um local que valoriza o clima, observa que “as mudanças climáticas são muito prejudiciais, pois afetam a terra, o solo e o ciclo da água, desestabilizando nossa agricultura familiar”. Além disso, ela lamenta que a desregulação climática provoque a perda de tradições e culturas locais.
Jessyane Cavalcante: O Desafio do Plástico em Roraima
Da Região Norte do país, Jessyane Cavalcante, de 12 anos, chamou a atenção para a problemática da poluição por plástico em seu município, Mucajaí, em Roraima. Na conferência, ela defendeu vigorosamente a reciclagem de embalagens plásticas, visando garantir um território saudável. “A reutilização de materiais PET descartados incorretamente em nossa vila faria uma diferença significativa no combate à poluição”, argumentou a jovem, sublinhando o potencial de pequenas ações para grandes impactos.
Adryellen Silveira Bertoldo: Impactos Climáticos no Plantio Indígena
Na aldeia onde reside, em Aracruz, Espírito Santo, a estudante indígena Adryellen Silveira Bertoldo, de 13 anos, vivencia os impactos diretos das alterações climáticas. Ela relata que esses eventos prejudicam visivelmente o pequeno plantio de alimentos de sua comunidade. Por conseguinte, Adryellen expressou o desejo de compartilhar o conhecimento adquirido na conferência. “O que eu aprendi aqui, vou aplicar lá”, afirmou. Posteriormente, ela pretende dialogar com sua comunidade e sugerir ideias ao seu professor para desenvolver atividades na escola.
Elton Brenner: Sustentabilidade Urbana e Conscientização
Representando o bioma Cerrado, Elton Brenner, estudante do 8º ano do ensino fundamental, participou pela última vez da Conferência Nacional Infantojuvenil como delegado, devido ao limite de idade de 14 anos. Ele trouxe de Goiatuba, Goiás, um projeto escolar que reafirma o compromisso com a sustentabilidade e o meio ambiente, além da mobilização comunitária. O documento propõe soluções para problemas urbanos, como a criação de mais áreas verdes nas escolas, a melhoria das praças, o reaproveitamento da água, o plantio de hortas comunitárias e a fiscalização do descarte de resíduos sólidos. Elton acredita firmemente que eventos como a conferência são cruciais para despertar a consciência ambiental nos estudantes desde cedo. “Quem participa já compreende a importância do meio ambiente, aprende sobre reciclagem, conhece uma horta, aprofunda-se em alimentação saudável e até domina como gerenciar uma casa”, avaliou o jovem.
Kleber Medeiros de Oliveira Júnior: Desmatamento e Poluição Hídrica no Cerrado
De outra localidade de Goiás, São Miguel do Araguaia, o jovem delegado Kleber Medeiros de Oliveira Júnior, de 13 anos, fez uma observação preocupante durante o trajeto até Luziânia. Ele notou que a vegetação nativa do Cerrado havia sido substituída por vastas plantações de monoculturas. “Quanto menos árvores existirem, maior será o calor, porque essas árvores deixarão de produzir oxigênio, o que agravará o efeito estufa”, sentenciou Kleber. Além disso, o jovem lamentou a intensa poluição do rio em sua região. Ele criticou o descarte irresponsável: “Jogam muito lixo nas ruas, nos esgotos, e pensam que nada acontecerá. No entanto, o vento leva tudo para os rios, os peixes consomem isso e, como consequência, acabam morrendo.”
Legado e Impacto Transformador
Uma Conferência de Longa Duração e Sua Influência
As cinco edições anteriores da conferência infantojuvenil mobilizaram milhares de pessoas, e a 6ª edição, sob o tema “Vamos transformar o Brasil com educação e justiça climática”, contou com mais de 800 participantes, todos representantes das etapas preparatórias. A experiência de mobilização juvenil para o meio ambiente tem se mostrado transformadora. Francisco Gelmo Sousa, cantor e compositor de 30 anos, é um exemplo notável desse impacto. Ele participou da primeira conferência em 2006, aos 11 anos, como delegado de Itapajé, Ceará. Posteriormente, Gelmo atuou como integrante do coletivo de jovens facilitadores em outras edições e como organizador das etapas estaduais. Nesta 6ª edição, ele esteve presente como educador, responsável pelos jovens cearenses durante a viagem. Em suas palavras, “É uma imensa alegria constatar como esta conferência transforma nossas vidas, abre portas e delineia um presente e um futuro. Essa conexão com o ambiente sempre foi muito profunda para mim.”
Educadores e a Aposta no Potencial Juvenil
Gestores de educação, representando diversas delegações estaduais no evento, reforçam a convicção no poder transformador socioambiental dessas conferências. Eles apostam tanto na conscientização sobre o futuro e nos hábitos atuais dos jovens participantes, quanto no combate à desinformação. Luana Batista, servidora da Secretaria de Educação do Piauí e responsável pela delegação do estado, exemplifica essa visão. Ela afirma que “projetos com o envolvimento da comunidade escolar realmente funcionam, promovendo uma mudança significativa nas atitudes, comportamentos e valores para aprimorar a qualidade de vida diária”. Ademais, Luana percebe uma melhoria notável nos jovens que vivenciam as experiências das conferências ambientais. “Essas mudanças de atitude os aprimoram. Até mesmo a forma como eles se expressam, como protagonistas juvenis, dentro de suas comunidades escolares e territórios, demonstra essa evolução.”
De maneira similar, o professor Alexandre Guimarães, representante da Secretaria de Educação da Bahia, presente pela primeira vez em uma conferência nacional, deposita sua confiança no potencial da juventude para melhorar o planeta. Ele destacou o engajamento dos estudantes baianos de 11 a 14 anos em todos os projetos desenvolvidos em suas escolas. “Isso nos dá o alento de que a transição geracional ocorrerá com qualidade, garantindo o futuro deste planeta que tanto amamos e queremos proteger”, afirmou Guimarães.
Alcance e o Legado para a COP30
O Vasto Alcance da Mobilização
A mobilização para esta conferência teve um alcance impressionante, englobando 8.732 escolas em 2.307 municípios. Como resultado, o evento conseguiu reunir delegações dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, evidenciando o amplo engajamento nacional.
A Carta Compromisso para o Futuro
Na quarta-feira, dia 8, os jovens estudantes, representantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental de várias regiões do Brasil, tiveram a oportunidade de apresentar a “Carta Musical Raiz que Floresce” ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a diversos ministros. Além disso, entregaram uma versão preliminar da “Carta Compromisso das Crianças e Jovens pelo Futuro do Planeta”. Este documento simboliza um pacto das novas gerações pela construção de uma sociedade mais sustentável e solidária. A versão final da “Carta Compromisso” será oficialmente levada pelo governo brasileiro à COP30, que acontecerá em Belém a partir de 10 de novembro. Esta iniciativa representa um reconhecimento crucial do protagonismo juvenil na conscientização e no enfrentamento das complexas mudanças climáticas.