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BNDES libera R$ 385 mi para restauração florestal rentável e combate à crise climática

O BNDES anuncia R$ 385 milhões em financiamentos para impulsionar a restauração florestal e silvicultura no Brasil, reforçando a visão de que a recuperação ambiental é rentável e crucial contra a crise climática.
Restauração florestal rentável BNDES
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou um pacote robusto de R$ 385 milhões em financiamentos, destinados a impulsionar a restauração florestal e a silvicultura em diversas regiões do Brasil. Esta iniciativa reforça a premissa de que a recuperação ambiental é não apenas uma necessidade ecológica premente, mas também uma estratégia economicamente viável e crucial para combater a crise climática global.

Viabilidade Econômica da Restauração Florestal

A recuperação de áreas florestais degradadas representa uma oportunidade significativa para a geração de receita, conforme defendido enfaticamente por João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Durante um encontro focado na conservação e restauração ambiental, realizado na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, Capobianco sublinhou a capacidade de transformar a ação ambiental em um vetor de desenvolvimento econômico.

Ele destacou que diversos parceiros já demonstram, de maneira concreta, como é possível realizar a restauração florestal gerando lucros, impulsionando vendas e movimentando a economia. O secretário fez questão de ressaltar que a abordagem não se trata de doação ou filantropia, mas sim de um modelo de negócio sustentável. O evento contou com a participação de representantes de empresas que atuam na silvicultura, setor que utiliza florestas plantadas para a produção comercial de matérias-primas essenciais, como celulose, toras para móveis e construção civil.

Além disso, Capobianco salientou a urgência de o Brasil seguir com ações de restauração contínuas. Embora o país combata ativamente o desmatamento, é fundamental intensificar esses esforços para cumprir o compromisso internacional de reduzir as emissões de gás carbônico (CO₂) — principal causador do efeito estufa — entre 59% e 67% até 2035, em comparação aos níveis de 2005. O secretário avalia que, com alta eficiência, o país pode atingir a marca de 850 milhões de toneladas de CO₂ emitidas até 2035, o que ele classificou como um “feito absolutamente excepcional”. Esta ambiciosa meta é parte da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), um compromisso assumido pelo Brasil no âmbito do acordo climático global para mitigar o aquecimento do planeta.

Compromisso com o Desmatamento Zero e a COP30

Este importante encontro no BNDES ocorreu a exato um mês do início da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), agendada para Belém, de 10 a 21 de novembro. A proximidade da conferência global realça a urgência e a relevância das discussões e ações sobre o clima no cenário nacional e internacional.

Nesse contexto, Capobianco reiterou o progresso do Brasil na reversão das taxas de desmatamento, apontando para a meta ambiciosa de alcançar o desmatamento zero até 2030, abrangendo tanto a derrubada ilegal quanto a legal. Ele afirmou que a taxa de desmatamento na Amazônia foi reduzida em 45% em relação aos níveis herdados de uma gestão anterior, que ele descreveu como “negacionista” e que permitiu um rápido aumento do desmatamento. O secretário mencionou, ainda, progressos significativos no combate ao desmatamento no Cerrado e na Mata Atlântica, demonstrando uma tendência positiva em diferentes biomas brasileiros.

Detalhes dos Financiamentos Anunciados

Durante o evento, o BNDES, um banco público de fomento vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, formalizou dois financiamentos cruciais. Estes recursos provêm majoritariamente do Fundo Clima, uma iniciativa que agrega capital nacional e internacional para projetos de conservação ambiental no país.

Projetos de Restauração em Larga Escala

Um dos financiamentos aprovados destina R$ 250 milhões, na modalidade de empréstimo, à Suzano, líder mundial na fabricação de celulose. Este montante permitirá à empresa atuar na recuperação de aproximadamente 24 mil hectares, uma área comparável à cidade do Recife, em biomas vitais como Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. As ações de restauração ocorrerão em seis estados: São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Pará e Mato Grosso do Sul. Vale ressaltar que este é o maior volume de recursos já liberado pelo Fundo Clima para a recuperação de mata nativa degradada, evidenciando a magnitude e o impacto do compromisso.

Paralelamente, o Grupo Belterra receberá R$ 100 milhões para desenvolver projetos inovadores de agrofloresta. O objetivo principal é restaurar áreas na Bahia, Pará, Rondônia e Mato Grosso, por meio de uma parceria estratégica com pequenos e médios produtores rurais de cacau. Este projeto representa a primeira iniciativa de restauração produtiva em larga escala no setor, com a expectativa de plantar 2,9 milhões de mudas, combinando harmoniosamente produção agrícola com conservação florestal.

Apoio a Terras Indígenas e Inovação em Silvicultura

Em outra frente importante, o BNDES lançou uma concorrência pública que destina R$ 10 milhões para a recuperação florestal em 61 terras indígenas potenciais, localizadas nos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Esta iniciativa crucial, que conta com o apoio financeiro da Fundação Bunge (ligada à empresa do agronegócio), disponibiliza recursos não reembolsáveis e integra o programa Floresta Viva, fortalecendo a conservação em territórios indígenas. Portanto, busca-se um impacto ambiental e social direto.

Além disso, o banco público detalhou o projeto BNDES Floresta Inovação, que prevê um investimento de R$ 24,9 milhões em recursos também não reembolsáveis. Este projeto visa apoiar a silvicultura sustentável e comercial, com um duplo objetivo: restaurar áreas degradadas e produzir madeira nativa para fins comerciais. O Floresta Inovação não se limita apenas ao cultivo e manejo; ao contrário, destina uma parte significativa dos recursos para pesquisa e inovação no setor, buscando, assim, otimizar custos e elevar a produtividade. A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), esta última vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, coordenam conjuntamente esta iniciativa estratégica.

Perspectivas Futuras e o Potencial Brasileiro

Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, reforçou o papel de destaque do Brasil como um dos principais produtores mundiais de celulose. Ele visualiza “uma avenida para crescer” ainda mais na silvicultura, destacando o vasto potencial do setor. Mercadante declarou que o setor promete “resultados exuberantes” em termos de investimento, participação privada e retorno não apenas ambiental, mas também econômico, gerando empregos, inovação e avanços tecnológicos. Ele reiterou, portanto, que o Brasil tem um caminho promissor à frente neste segmento.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2024 indicam que 77,6% das áreas dedicadas à silvicultura no país eram cultivadas com eucalipto, seguido por pinus (18,6%) e outras espécies (3,8%). Mercadante fez uma observação contundente, destacando que “não há método mais antigo, eficiente e barato para sequestrar carbono do que o plantio de árvores”, sublinhando a simplicidade e eficácia da solução natural para um dos maiores desafios climáticos.

Às vésperas da COP30, Tereza Campello, diretora Socioambiental do BNDES, afirmou que os anúncios recentes fazem parte de um esforço concentrado para demonstrar que “o Brasil tem entregas efetivas e robustas” na agenda ambiental. Ela ainda antecipou que a área de florestas do banco tem pelo menos mais quatro anúncios importantes a serem feitos antes da conferência em Belém, indicando uma série contínua de ações e investimentos em prol da sustentabilidade e do combate às mudanças climáticas.