Brasília tornou-se o epicentro das discussões climáticas pré-COP30, sediando a importante Pré-COP nos dias 13 e 14 de novembro. Este encontro estratégico reuniu delegações de cerca de 50 países, com o objetivo primordial de catalisar as negociações globais sobre o clima e, consequentemente, moldar o tom dos preparativos que antecedem a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), agendada para ocorrer em Belém.
A Relevância da Pré-COP na Agenda Climática Global
Considerada a última reunião de alto nível entre negociadores antes da COP30, este evento em Brasília assumiu um papel crucial na agenda ambiental. Embora não faça parte do calendário oficial do secretariado da Convenção do Clima, sua estrutura permite focar nas delegações que coordenam grupos regionais, facilitando assim um diálogo mais direcionado. De acordo com o embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da COP30, a capital brasileira recebeu aproximadamente 500 representantes de 50 nações, sublinhando a amplitude do engajamento internacional.
Posteriormente, a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, destacou a importância do evento para fortalecer os laços diplomáticos e clarear as posições de cada país. Segundo a ministra, este é um momento essencial para gerenciar expectativas e resolver possíveis divergências, garantindo que a COP30 alcance os resultados esperados e se estabeleça como um marco significativo. O encontro, portanto, visa aprimorar a capacidade de resposta global à crise climática, definindo diretrizes para as etapas futuras do processo multilateral.
O Desafio das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)
Um ponto central das preocupações levantadas tanto pela presidência designada da COP30 quanto pela delegação brasileira que liderará as negociações em Belém, reside na entrega das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Estes planos, que detalham as ambições de cada país para reduzir emissões e adaptar-se às mudanças climáticas, são fundamentais para o sucesso das metas globais. Até o dia 10 de novembro, apenas 62 dos 196 países signatários da Convenção do Clima e do Acordo de Paris haviam oficializado suas ambições. Preocupa, entretanto, a ausência de grandes emissores como China e Índia nesta lista.
Ademais, Ana Toni, diretora executiva da COP30, compartilhou perspectivas otimistas. Ela mencionou que 101 países se comprometeram a entregar suas NDCs antes do encontro em Belém, com a expectativa de que este número possa atingir 125 até o final do ano. A qualidade dessas contribuições também tem sido um foco. Anteriormente, as primeiras gerações de NDCs muitas vezes se limitavam a metas genéricas, sem planos setoriais ou estratégias de financiamento claras. Entretanto, a diretora observa uma evolução, com países agora apresentando metas mais abrangentes e detalhadas, incluindo planos específicos para setores e fontes de financiamento. O Brasil, por exemplo, como copresidente da coalizão global NDC Partnership, tem desempenhado um papel ativo ao auxiliar mais de 70 nações no desenvolvimento de suas NDCs, contribuindo para esta melhoria qualitativa.
O Balanço Global e a Realidade do Aquecimento
Com as NDCs gradualmente sendo submetidas, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), composto por cientistas renomados, está programado para realizar um balanço detalhado em 23 de outubro. Este balanço avaliará a capacidade coletiva das metas propostas em conter o aquecimento global. É importante ressaltar que, embora o planeta já tenha atingido um aumento de 1,5ºC na temperatura média em comparação com o período pré-industrial, as projeções iniciais, anteriores à Convenção do Clima, apontavam para um aquecimento catastrófico de 6ºC, cenário que tornaria a vida humana no planeta insustentável.
Dessa forma, a implementação de ações climáticas resultou em uma revisão dessas projeções para 3ºC. As novas metas e planos devem levar a uma nova avaliação. O embaixador Maurício Lyrio, Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, alertou que a não apresentação de NDCs ou a formulação de metas pouco ambiciosas terão um impacto direto no cálculo final dos resultados das ações climáticas globais. Por outro lado, o embaixador ponderou que, em alguns casos, as ações práticas adotadas pelos países podem ser até mais eficazes do que as próprias NDCs formalmente apresentadas. Contudo, ele enfatizou a seriedade da situação ao afirmar que “o balanço geral que será feito em outubro vai revelar um número que não nos deixará despreocupados”, reforçando a urgência e a necessidade de ambição nas políticas climáticas internacionais.