A Itaipu Binacional, renomada por sua atuação no setor de energia hidrelétrica e por seus esforços contínuos na inovação sustentável, apresentou recentemente o primeiro barco totalmente movido a hidrogênio verde da América Latina. Desenvolvida em Foz do Iguaçu, esta embarcação de vanguarda fará sua estreia oficial na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá em Belém, no Pará, consolidando a empresa como um polo de desenvolvimento em energias renováveis.
Detalhes da Embarcação Inovadora
Projetada pelo Itaipu Parquetec, um centro de inovações da própria empresa focado em soluções sustentáveis, a embarcação representa um marco inédito para o continente. Sua apresentação ocorreu nas águas do reservatório de Itaipu, no Rio Paraná, em Foz do Iguaçu, lado brasileiro da usina. Construído em alumínio, o barco possui 9,5 metros de comprimento e 3 metros de largura. Além disso, a embarcação incorpora um sistema de aproveitamento de energia solar, o que otimiza sua autonomia.
Durante a navegação, este veículo aquático se destaca por não emitir ruídos nem poluentes, resultando na liberação exclusiva de água pura como subproduto do motor. Inicialmente, o barco será empregado na capital paraense para a coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos em ilhas habitadas. Posteriormente, a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), uma entidade sem fins lucrativos ligada à Universidade Federal do Pará (UFPA) e dedicada ao avanço científico, social e tecnológico da Amazônia, assumirá a responsabilidade pela operação da embarcação.
A Essência do Hidrogênio Verde
O hidrogênio, por si só, é um gás com grande potencial como combustível, visto que sua combustão não gera dióxido de carbono (CO₂), principal gás do efeito estufa. Entretanto, apesar de ser o elemento mais abundante no universo, raramente é encontrado em sua forma isolada na natureza, geralmente aparecendo combinado, como na molécula de água (H₂O). Para sua extração, a eletrólise se mostra um dos métodos mais avançados, processo que separa as moléculas da água.
Para classificar o hidrogênio como “verde”, a energia utilizada na eletrólise deve provir de fontes limpas, como a hidrelétrica. Por exemplo, a produção de hidrogênio verde pela Itaipu utiliza a energia gerada pela usina, assegurando que todo o processo seja ambientalmente sustentável. Daniel Cantane, gestor do Centro de Tecnologias de Hidrogênio de Itaipu Parquetec, enfatizou que tanto a produção quanto o uso do hidrogênio verde não causam poluição ambiental. Conforme explicou, “no caso do barco, após o uso como combustível, o produto gerado é água pura, que retorna ao rio”, demonstrando o ciclo limpo e integrado.
Implantação e Sustentabilidade em Belém
A chegada do barco em Belém para a COP30 não é apenas um evento pontual. Para garantir a continuidade do uso da embarcação após a conferência, um posto náutico será instalado na cidade. Este posto, semelhante ao já existente em Foz do Iguaçu, utilizará energia solar para a produção local de hidrogênio verde. Além disso, a estrutura contará com capacidade de armazenamento para o combustível gerado, assegurando o abastecimento contínuo. Cantane esclarece que “esse posto terá um sistema de recarga para fazer o abastecimento das embarcações, então, garante o uso da embarcação de uma maneira contínua após a COP30”, reforçando o compromisso com a sustentabilidade a longo prazo.
A COP30, que ocorrerá entre 10 e 21 de novembro, reunirá delegações governamentais e organizações da sociedade civil de todo o mundo. O objetivo principal do evento é buscar soluções globais para o aquecimento global e as complexas questões relacionadas às mudanças climáticas, contexto no qual a iniciativa da Itaipu se insere como um exemplo prático de inovação.
Perspectivas Futuras e Descarbonização
O centro de inovação Itaipu Parquetec não se limita ao desenvolvimento de embarcações. Conforme informou seu gestor, Daniel Cantane, o futuro da descarbonização já está em andamento, com o desenvolvimento de outras aplicações para o hidrogênio verde. Por exemplo, este combustível limpo pode ser adaptado para frotas de caminhões logísticos ou até mesmo para ônibus em grandes centros urbanos, contribuindo significativamente para a redução da pegada de carbono.
Enio Verri, diretor-geral brasileiro de Itaipu, vislumbra que o barco movido a hidrogênio verde poderá, futuramente, ser expandido para o transporte de passageiros em regiões como o Pará, onde o transporte hidroviário é de suma importância. Ademais, Verri sugere a possibilidade de associar o uso de barcos a hidrogênio à exploração e produção de petróleo na Margem Equatorial, uma nova fronteira petrolífera próxima à Linha do Equador. Conforme sua avaliação, “serão embarcações como essa as alternativas no transporte para se obter esse petróleo, levar esse petróleo para outros lugares, para você contrapor a utilização do petróleo, que é um combustível que polui, utilizando hidrogênio verde, com isso, minimizando os impactos da extração do petróleo daquela região”, o que demonstra uma visão estratégica para mitigar os impactos ambientais da indústria petrolífera.