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STF suspende julgamento da Ferrogrão após pedido de vista de Dino

Nesta quarta-feira (8), o STF suspendeu o julgamento da Ferrogrão, ferrovia que ligará Sinop (MT) a Itaituba (PA), após Flávio Dino pedir vista. O caso debate a constitucionalidade da obra.
STF suspende julgamento Ferrogrão
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O Supremo Tribunal Federal (STF) interrompeu nesta quarta-feira (8) a análise sobre a legalidade da Ferrogrão, uma significativa infraestrutura ferroviária projetada para conectar Sinop, no norte do Mato Grosso, a Itaituba, no Pará. A suspensão ocorreu após o ministro Flávio Dino solicitar vista do processo, adiando assim a decisão sobre a constitucionalidade do empreendimento. Por enquanto, não há uma data definida para a retomada do julgamento, mantendo em aberto o futuro deste projeto de grande envergadura para o escoamento da produção agrícola.

Contexto e Suspensão do Julgamento

A votação acerca da viabilidade constitucional da Ferrogrão havia sido iniciada durante a sessão, com os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso já tendo proferido seus votos. Entretanto, o ministro Flávio Dino, ao pedir vista, utilizou um mecanismo processual que permite maior tempo para aprofundar a análise do caso. Esta medida, portanto, pausou o debate, que agora aguarda uma nova pauta para ser reiniciado. A Ferrogrão, desde sua concepção, tem sido objeto de intenso debate, principalmente por seu potencial impacto ambiental e social na região amazônica.

Adicionalmente, o projeto da Ferrogrão remonta ao governo do ex-presidente Michel Temer, período em que uma Medida Provisória (MP) foi editada para tratar de sua implementação. Posteriormente, essa MP foi convertida na Lei 13.452/2017, pavimentando legalmente o caminho para a construção da ferrovia. A justificativa primordial para o empreendimento é a resolução dos problemas logísticos enfrentados pelo escoamento da vasta produção agrícola brasileira, especialmente a da região Centro-Oeste, visando otimizar o transporte de grãos até os portos de exportação.

Os Impasses Ambientais e a Ação no STF

A implementação da Ferrogrão gerou considerável controvérsia devido às alterações nos limites do Parque Nacional do Jamanxim, localizado no Pará. Essas mudanças foram realizadas justamente para possibilitar o traçado da ferrovia, o que suscitou preocupações ambientais significativas. Nesse sentido, a questão chegou ao Supremo Tribunal Federal por meio de uma ação apresentada pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). O partido alegou que as exigências ambientais não foram devidamente cumpridas e, além disso, apontou potenciais prejuízos às comunidades indígenas que vivem nas proximidades da área afetada pelo parque.

A preocupação central do PSOL e de outras organizações da sociedade civil reside na fragilidade dos ecossistemas amazônicos e na proteção dos direitos territoriais e culturais dos povos originários. Assim, a ação levanta questionamentos cruciais sobre o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental, um dilema frequente em projetos de infraestrutura de grande porte no Brasil. Portanto, o julgamento no STF não se restringe apenas à legalidade da lei, mas também aborda princípios fundamentais de sustentabilidade e justiça social.

O Posicionamento dos Ministros e o Futuro da Análise

No decorrer da sessão, o ministro Alexandre de Moraes, atuando como relator do caso, proferiu seu voto a favor da constitucionalidade da lei que alterou os limites do Parque Nacional do Jamanxim. Em sua avaliação, as normas em questão previram as devidas compensações ambientais para a área que seria reduzida do parque, e ele considerou que não haveria um prejuízo ambiental significativo. Além disso, o relator minimizou os possíveis impactos para as comunidades indígenas.

Conforme o ministro Moraes, a ferrovia não atravessaria diretamente terras indígenas. Ele argumentou que o maior impacto registrado seria percebido na Terra Indígena Praia do Mangue, mas esta se encontra a uma distância de quatro quilômetros do traçado planejado para a ferrovia, o que, em sua visão, atenua o risco. Posteriormente, o ministro Luís Roberto Barroso seguiu integralmente o voto do relator, alinhando-se à sua interpretação. Ainda assim, com o pedido de vista de Flávio Dino, faltam os votos de nove ministros para que o julgamento seja concluído, indicando que a discussão ainda está longe de um desfecho final e que o resultado pode pender para qualquer lado, dependendo das próximas manifestações. A expectativa é grande para quando o tema voltará à pauta da Suprema Corte.