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Vendas do Dia das Crianças podem ser as melhores em 12 anos, totalizando R$ 9,96 bi

Vendas para o Dia das Crianças podem movimentar R$ 9,96 bilhões, com alta de 1,1%, tornando-se as melhores dos últimos 12 anos, estima a CNC.
Vendas recorde Dia das Crianças
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

As vendas programadas para o Dia das Crianças, comemorado no próximo dia 12 de outubro, prometem um faturamento recorde para o comércio brasileiro. Uma projeção divulgada nesta quarta-feira (1º) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que o setor movimentará impressionantes R$ 9,96 bilhões. Este montante representa um crescimento de 1,1% em comparação com o ano anterior, quando as vendas atingiram R$ 9,85 bilhões, consolidando, assim, a melhor performance para a data nos últimos doze anos, caso as expectativas se concretizem.

Projeções e a Relevância do Dia das Crianças

A CNC, em sua análise detalhada, destaca que o valor previsto para este ano, aproximando-se dos R$ 10 bilhões, só foi superado em 2014, que registrou R$ 10,5 bilhões. É importante ressaltar que todos os valores apresentados são reais, ou seja, já incorporam os ajustes inflacionários do período. Adicionalmente, o Dia das Crianças se posiciona como a terceira data mais significativa para o varejo nacional, ficando atrás apenas do Natal, que projeta R$ 72,8 bilhões em 2024, e do Dia das Mães, com uma estimativa de R$ 14,5 bilhões para 2025.

A entidade ainda detalha a distribuição esperada dessas vendas entre os diversos segmentos do comércio. Conforme a projeção, o setor de vestuário e calçados deverá abocanhar a maior fatia, correspondendo a 27% do total. Por conseguinte, a expectativa para cada segmento se configura da seguinte maneira:

Distribuição das Vendas por Segmento

  • Vestuário, calçados e acessórios: R$ 2,71 bilhões
  • Eletroeletrônicos e brinquedos: R$ 2,66 bilhões
  • Farmácias, perfumarias e cosméticos: R$ 2,15 bilhões
  • Móveis e Eletrodomésticos: R$ 1,29 bilhão
  • Hiper e supermercados: R$ 690 milhões
  • Outros segmentos: R$ 45 milhões

O Impacto dos Juros Elevados e da Inflação no Consumo

Apesar do otimismo em relação ao volume de vendas, que se apresenta como o maior em mais de uma década, o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, pondera que o aumento de 1,1% entre 2024 e 2025 poderia ser ainda mais expressivo. Ele explica que o cenário atual de juros altos e inflação persistente atua como um freio na aceleração do consumo. Bentes enfatiza: “A inflação ainda não está onde a gente quer, e os juros, justamente por conta disso, estão também em um patamar que ninguém deseja, um patamar muito elevado”. Dessa forma, a combinação desses fatores explica a contenção no ritmo das vendas, mesmo com um mercado de trabalho demonstrando boa performance.

Além disso, Bentes esclarece que o custo elevado do crédito torna as escolhas do consumidor mais difíceis. Ele ilustra a situação: “Vai parcelar o brinquedo, vai pagar o cartão de crédito?”. Com juros em patamares elevados, o consumidor é compelido a priorizar gastos essenciais, o que acaba prejudicando significativamente o comércio, especialmente aqueles que dependem de vendas financiadas. Entretanto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central justifica a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano como uma medida crucial para controlar a inflação. A variação de preços, que totalizou 5,13% nos doze meses encerrados em agosto, ainda supera o teto da meta estabelecida, de 4,5%.

Crédito Mais Caro e Aumento da Inadimplência

A CNC também ressalta que o patamar elevado dos juros tem provocado um encarecimento notável do crédito. Como resultado, a taxa média para o consumidor alcançou 57,65% ao ano em julho passado, marcando o nível mais alto para este mês desde 2017, segundo dados do Banco Central. Consequentemente, a confederação alerta que essa condição dos juros impacta diretamente a inadimplência. O percentual de famílias com contas em atraso atingiu 30,4%, um recorde histórico na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), iniciada em 2010.

Por fim, a CNC lembra que, além do contexto do Dia das Crianças, o comércio nacional tem enfrentado um período desafiador, com quatro meses consecutivos de recuo nas vendas, conforme indicam os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE referentes a julho.

A Inflação Específica do Setor Infantil

O levantamento da CNC ainda aponta que a inflação incidente sobre os produtos tradicionalmente associados ao Dia das Crianças superou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrando uma alta média de 8,5% em comparação com a mesma data em 2024. Notavelmente, dos onze itens analisados, quatro apresentam uma inflação esperada em dois dígitos:

Itens com Inflação em Dois Dígitos

  • Chocolates: 24,7%
  • Doces: 13,9%
  • Lanche: 10,9%
  • Cinema, teatro e concertos: 10,3%

Fabio Bentes explica que essa inflação já está consolidada, tendo se formado ao longo dos últimos onze meses. Em relação ao aumento do preço do chocolate, ele associa a questão a fatores internacionais. “O chocolate tem na produção uma commodity, o cacau. Sempre que a gente tem algum choque no preço de uma commodity dessas, a gente acaba tendo uma repercussão no preço no mercado interno”, pontua Bentes. Desse modo, para mitigar o impacto, ele sugere a “boa e velha pesquisa de preço” entre as inúmeras marcas disponíveis. Em contrapartida, itens considerados carros-chefe das vendas, como brinquedos (4,1%) e roupas infantis (3,3%), projetam uma inflação menor que o índice geral, de acordo com as estimativas da CNC.