O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, declarou neste sábado (27) no Rio de Janeiro que as medidas restritivas impostas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem, de fato, causar atrasos, mas não serão capazes de impedir o Brasil de consolidar importantes acordos e parcerias internacionais na área da saúde. A despeito das tentativas de limitar sua circulação, Padilha enfatiza que a força da cooperação brasileira prevalecerá no cenário global.
Restrições e a Cooperação Internacional
As declarações do ministro ocorreram durante uma visita às obras e à inauguração de novas alas no Hospital Federal do Andaraí, situado na zona norte da capital fluminense. Anteriormente, Padilha, sua esposa e sua filha de dez anos já haviam sofrido represálias por parte do governo Trump. No mês passado, por exemplo, os vistos da esposa e da filha para os EUA foram cancelados. O visto do próprio ministro já estava vencido desde 2024, portanto, não foi objeto de cancelamento.
Adicionalmente, este mês, por ocasião da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York, que teve início na terça-feira (23) e se estendeu até este sábado, Trump suspendeu temporariamente a proibição de entrada de Padilha no país. Entretanto, o ministro teve sua mobilidade severamente restringida apenas ao hotel, à sede da ONU e a instalações médicas em caso de emergência. A participação presencial na reunião do Conselho Diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que ocorreria em Washington, permaneceu igualmente vetada.
Em virtude dessas limitações, Padilha, que deveria viajar de Nova York para Washington na sexta-feira (26) para participar do encontro da OPAS, optou por não comparecer. Conforme expressou o ministro, “Eles até podem restringir a circulação de um ministro, mas não podem restringir a ideia. Não conseguem segurar a circulação da ideia e nem a força do Brasil na cooperação internacional com os outros países para trazer investimentos para cá.” Portanto, embora as reuniões planejadas não tenham ocorrido presencialmente, o ministro garantiu que essas parcerias serão firmadas, seja em solo brasileiro ou em outros países.
Impacto das Tarifas Americanas na Indústria da Saúde
Questionado sobre as consequências do “tarifaço” imposto por Trump nos preços dos medicamentos, Padilha esclareceu que as tarifas visavam primordialmente a indústria exportadora brasileira. Ele explicou que “o impacto que essas tarifas absurdas feitas pelo presidente dos Estados Unidos gerou é para a indústria exportadora brasileira. A gente tem uma indústria na área da saúde, sobretudo da saúde bucal, de equipamentos médicos, de insumos para a saúde bucal que exportava inclusive para os Estados Unidos”.
No entanto, o ministro salientou que o governo federal, por meio do Ministério da Saúde, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e com o apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já implementa medidas para mitigar esses efeitos. O objetivo principal é preservar empregos, manter a produção e, além disso, explorar novos mercados. “Essa indústria está exportando para outros países, não tem só os Estados Unidos para exportar”, ponderou Padilha, demonstrando a busca por diversificação comercial.
Estímulo à Produção Nacional e Novas Parcerias
Ainda sobre a questão dos medicamentos, o ministro destacou que as restrições, paradoxalmente, incentivaram a formação de novas parcerias para a produção nacional. Um exemplo notável é a retomada da fabricação de insulina no Brasil, um medicamento crucial no tratamento do diabetes, após um hiato de vinte anos. Além disso, Padilha revelou que empresas americanas estão ativamente buscando colaborações com o Brasil, impulsionando a transferência de tecnologia para o país.
Um acordo significativo citado foi o da produção de vacinas contra o vírus sincicial respiratório (VSR), reconhecido como uma das principais causas de infecções respiratórias graves em bebês, incluindo casos de bronquiolite. Consequentemente, segundo o ministro, essa vacina estará disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de novembro. Padilha enfatizou que “essas empresas que têm sede nos Estados Unidos, nessas situações, elas investem ainda mais no Brasil, transferem a tecnologia aqui no Brasil. A gente garante a vacina da bronquiolite para o povo brasileiro com essas parcerias e vai gerando renda, empregos e tecnologia aqui no Brasil”.
Inovação na Saúde da Mulher: Gravidez Planejada
Durante sua agenda, Padilha também fez uma demonstração prática da utilização do Implanon, um implante contraceptivo destinado à prevenção da gravidez. Este método, de fácil implantação, pode custar entre R$ 3 mil e R$ 5 mil em clínicas particulares. Entretanto, o ministro anunciou que o SUS irá ofertar, gratuitamente, 500 mil unidades até o final deste ano, e a meta é atingir 1,8 milhão de unidades até o final de 2026.
Este avanço representa, portanto, “mais uma forma das mulheres poderem organizar a sua vida, organizar a vida da sua família e a gente poder reduzir algo que é muito grave no Brasil, que é a gravidez na adolescência”, afirmou Padilha. A iniciativa visa oferecer mais autonomia e planejamento familiar às brasileiras.
Agenda de Padilha e Investimentos nos Hospitais do Rio
Ao longo do sábado, Alexandre Padilha cumpriu uma extensa agenda em hospitais tanto no município do Rio de Janeiro quanto na Baixada Fluminense, em Nova Iguaçu (RJ). Além da visita ao Hospital Federal do Andaraí, o ministro esteve no Hospital Geral de Nova Iguaçu, no Instituto Estadual de Oncologia da Baixada Fluminense e no Rio Imagem Baixada – Centro de Diagnóstico.
No Hospital Federal do Andaraí, a visita marcou, de fato, a reabertura do Centro de Tratamento de Queimados, do serviço de ortopedia e do espaço da cozinha, que permanecia inativo por mais de uma década. Esta ação faz parte integrante do Plano de Reestruturação dos Hospitais Federais, cujo propósito é ampliar o atendimento especializado e, por conseguinte, diminuir o tempo de espera por cirurgias na rede federal de saúde, em sinergia com o programa “Agora Tem Especialistas”. O Hospital do Andaraí é mantido com investimentos federais, totalizando R$ 600 milhões para sua recuperação, mesmo estando sob gestão municipal. De acordo com o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, com 30% das obras já finalizadas, a expectativa é concluir todas as etapas principais no primeiro trimestre de 2026.
Em conclusão, as declarações e a agenda do ministro Alexandre Padilha reforçam a resiliência do Brasil na busca por parcerias e aprimoramentos na saúde pública, mesmo diante de entraves internacionais. A priorização da produção nacional, a expansão de programas de planejamento familiar e os investimentos em infraestrutura hospitalar demonstram um compromisso contínuo com a saúde da população brasileira.



