A menos de dois meses da crucial 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, e com o prazo final de setembro para a atualização de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) se aproximando rapidamente, alguns dos maiores poluidores do planeta, incluindo China, Índia e União Europeia, ainda não apresentaram seus compromissos climáticos revisados. Essa inação gera crescente preocupação na comunidade internacional, à medida que o mundo se prepara para um evento de alto nível focado na ação climática, promovido pelo Brasil e pela ONU.
Grandes Emissores Atrasam Atualização de Metas Climáticas
O prazo estabelecido para que os países signatários do Acordo de Paris submetam suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) está fixado para o dia 30 de setembro. Desde o início deste mês, um impulso significativo foi observado, com dezesseis nações, como Austrália, Angola e Chile, entregando propostas atualizadas para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Entretanto, apesar de um total de 50 países já terem formalizado suas ambições, o World Resources Institute (WRI), uma organização ambiental sem fins lucrativos, alerta que estas metas abrangem meros 24% das emissões globais.
Por outro lado, as economias que mais contribuem para o problema, como China, Índia, a União Europeia e a Rússia, permanecem com suas submissões pendentes. Gustavo Souza, diretor de Políticas Públicas da Conservação Internacional (CI-Brasil), expressa a gravidade da situação. Ele explica que, embora o prazo inicial fosse fevereiro de 2025, um avanço foi feito até setembro. Contudo, muitos países ainda estão em falta. Para ilustrar, Souza destaca que, entre as nações do G20, que representam os maiores emissores, somente cinco — Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Japão — haviam cumprido o prazo inicial, evidenciando um desafio substancial.
Preparativos Intensos para a COP30 e Apelos Urgentes
Com a proximidade da COP30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário-geral da ONU, António Guterres, organizaram um evento especial de alto nível sobre ação climática em Nova York, realizado na última quarta-feira (24). A reunião, parte da Semana do Clima, teve como propósito central incentivar a apresentação de novas NDCs, visando fortalecer o caminho até a conferência em Belém.
Ademais, na terça-feira (23), o presidente brasileiro fez um discurso incisivo na abertura da Assembleia Geral da ONU. Nele, Lula sublinhou a urgência da situação, afirmando que “sem ter o quadro completo das Contribuições Nacionalmente Determinadas caminharemos de olhos vendados para o abismo”. Dessa forma, o líder brasileiro enfatizou a necessidade crítica de transparência e compromisso global para enfrentar a crise climática.
O Multilateralismo em Xeque Diante da Crise Climática
O governo brasileiro estabeleceu uma meta ambiciosa para a COP30: alcançar a entrega de 120 NDCs do total de 197 países-partes. Mário Gustavo Mottin, chefe da Divisão de Ação Climática do Ministério das Relações Exteriores, aponta que parte da dificuldade reside em uma crise global do multilateralismo. Ele observa que, neste ano em que se celebram os 30 anos da Convenção do Clima (lançada no Rio em 1992) e dez anos do Acordo de Paris, o mundo enfrenta significativos desafios geopolíticos.
Existe, portanto, um ceticismo generalizado quanto à capacidade do multilateralismo de promover respostas conjuntas para diversas questões, e a mudança do clima não escapa a esse cenário. Em suma, as tensões globais atuais impactam diretamente a cooperação necessária para combater as alterações climáticas.
A Importância Inegável da Cooperação Global e Seus Resultados
Na análise de Alexandre Prado, líder em mudanças climáticas da WWF-Brasil, o ceticismo observado decorre de um descompasso entre a percepção dos efeitos das mudanças climáticas e a velocidade das ações para reverter o problema. Ainda assim, ele defende que o multilateralismo permanece como o espaço mais eficaz para esse ajuste, e resultados positivos já foram colhidos.
Por exemplo, Prado ressalta que o volume atual de produção de energia proveniente de fontes renováveis — como eólica, solar e biocombustíveis (essenciais para o Brasil) — e toda a discussão sobre transição energética seriam difíceis de imaginar sem as conferências anuais do clima da ONU. Ele enfatiza que essas reuniões promovem o debate, a cobrança e o aprimoramento das estratégias necessárias. Posteriormente, Prado recorda que a previsão inicial de aquecimento global para as próximas décadas era de 6 graus Celsius (°C). Hoje, graças às medidas adotadas pelos países, essa perspectiva otimista foi ajustada para 4,5°C.
Embora 2,4°C ainda represente um cenário desafiador, o especialista compara isso com a projeção de 6°C, que significaria “o fim da vida no planeta”. Assim, ele conclui com uma reflexão poderosa, inspirada no escritor Ailton Krenak: “Nós somos terráqueos. Nós somos uma espécie que é desenvolvida para morar no planeta Terra. Então a gente está fadado ao sucesso ou todos morrem. A gente tem que perseguir o sucesso no sentido de manter a vida na Terra, a nossa vida na Terra”. Dessa forma, o apelo é claro: a cooperação global é a única via para garantir a sobrevivência e o futuro da humanidade.