Edição Brasília

Protesto em Copacabana: 41 mil contra anistia e PEC da Blindagem

41 mil pessoas protestaram neste domingo (21) em Copacabana, RJ, contra a PEC da Blindagem e a anistia a condenados por golpe, com shows de Caetano, Chico e Gil.
Protesto Copacabana PEC Anistia
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Milhares de cidadãos cariocas e de outras regiões do Brasil uniram suas vozes neste domingo (21) em uma manifestação expressiva na Praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. O protesto reuniu ativistas e figuras públicas contra a polêmica Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem e, além disso, contra qualquer iniciativa de anistia para indivíduos condenados por atos relacionados a tentativas de golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Entre os nomes envolvidos nas condenações, destacam-se o ex-presidente Jair Bolsonaro, ex-ministros e diversos aliados.

Ampla Participação Popular e Demanda por Transparência

O ato em Copacabana demonstrou uma significativa mobilização popular. De acordo com os cálculos do Monitor do Debate Político no Meio Digital, uma iniciativa vinculada à Universidade de São Paulo (USP), aproximadamente 41,8 mil pessoas compareceram ao evento. Os manifestantes, reunidos nas imediações do Posto Cinco da orla, ergueram cartazes e bradaram palavras de ordem como “Sem Anistia” e “Viva a Democracia”, expressando assim seu repúdio às pautas consideradas ameaçadoras ao Estado de Direito. Ademais, a mobilização também contou com discursos de lideranças políticas e apresentações musicais de renomados artistas brasileiros.

PEC da Blindagem: O Que Está em Jogo?

A Proposta de Emenda à Constituição que motivou parte considerável do protesto foi recentemente aprovada pela Câmara dos Deputados, na última terça-feira (16). Esta medida, que agora segue para análise no Senado, visa, na prática, dificultar a instauração de processos criminais contra parlamentares. Consequentemente, a PEC impõe que as próprias casas legislativas precisam autorizar a abertura de tais processos. Os críticos da proposta argumentam que ela pode conceder uma “blindagem” indevida a políticos, comprometendo a responsabilização legal e a transparência, e que, por outro lado, fortalece uma cultura de impunidade.

A Voz da Cultura em Defesa da Democracia

Grandes nomes da música brasileira marcaram presença no evento, transformando o protesto em um potente ato cultural. Caetano Veloso, por exemplo, ressaltou a resiliência da democracia brasileira e a vibrante vitalidade da cultura nacional. Em suas palavras, é fundamental “não deixar de responder aos horrores que vêm se insinuando à nossa volta”, um claro chamado à vigilância cívica. Similarmente, Gilberto Gil, em sua fala, relembrou os momentos desafiadores pelos quais o Brasil já atravessou, sempre em busca de autonomia e do bem-estar coletivo. Outros artistas como Chico Buarque, Paulinho da Viola e Djavan também participaram, reforçando o coro pela justiça e pela manutenção das instituições democráticas.

Testemunhos de Diferentes Gerações na Luta Cívica

A diversidade dos participantes em Copacabana foi notável, abrangendo desde aposentados a jovens estudantes, todos unidos por um objetivo comum. Regina de Brito, uma servidora pública federal aposentada de 68 anos, foi uma das primeiras a chegar. Ela enfatizou a importância de apoiar o movimento contra aqueles que tentaram um golpe no país. De fato, Regina, que cresceu durante a ditadura militar, expressou sua indignação com a proposta de anistia para condenados que sequer cumprem suas penas. Ela criticou o Congresso por focar em pautas consideradas egoístas, em vez de atender às necessidades da população, como a isenção do imposto de renda.

Ademais, Caio dos Santos, um estudante de 16 anos da rede pública estadual de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, também se fez presente. Ele argumentou que a movimentação popular é crucial contra o que ele descreveu como “desserviço à população feito pelo Congresso Nacional”. Para Caio, a “PEC da Bandidagem”, como ele a chamou, representa um “total desrespeito”, e os cidadãos não podem permanecer calados. Ele ainda acrescentou que, como estudante, sente a obrigação de se opor a figuras políticas que, em sua visão, prejudicam a educação e a saúde públicas, defendendo a importância de difundir a consciência sobre o passado ditatorial para evitar o retorno da extrema-direita e para uma votação mais consciente.

Posteriormente, o policial penal aposentado Edson Enio Martins Tonnel, de 75 anos, acompanhado de sua esposa, chegou cedo para manifestar seu descontentamento com a Câmara dos Deputados. Ele defendeu que o Senado precisa barrar a PEC da Blindagem, alertando que, caso contrário, o parlamento poderia se transformar em um “antro de bandidos”. Edson enfatizou que a participação cívica é fundamental, independentemente da idade, para o bem do Brasil e das famílias. Em sua fala, ele também expressou a crença de que os responsáveis pelos atos golpistas devem ser punidos rigorosamente.

Por fim, Letícia Rocha, estudante de arquitetura de 20 anos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica, compareceu ao ato com amigos. Ela reiterou a necessidade de não esquecer o passado, destacando a condenação de Bolsonaro como uma vitória importante para o país. Assim, a presença de diferentes gerações na manifestação em Copacabana sublinhou a amplitude do sentimento de alerta e a defesa da democracia entre os brasileiros.