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Nasa revela possíveis sinais de vida antiga em Marte, aguardando confirmação

O rover Perseverance da Nasa identificou possíveis indícios de bioassinaturas em rochas da cratera de Jezero, em Marte, com resultados divulgados e que demandam análise aprofundada na Terra.
vida antiga Marte
Foto: Arte Nasa

O rover Perseverance da NASA recentemente capturou indícios promissores de bioassinaturas em rochas na cratera de Jezero, em Marte. Tais descobertas, divulgadas pela agência espacial, representam um passo empolgante na busca por vida extraterrestre, mas exigem uma análise aprofundada em laboratórios na Terra para confirmação definitiva.

Sinais Promissores em Marte: A Missão Perseverance

Sessenta anos após a pioneira missão Mariner 4, que visava apenas registrar imagens do Planeta Vermelho, a expedição do rover Perseverance é atualmente celebrada pela comunidade científica como a mais promissora. De fato, muitos a consideram a iniciativa mais próxima de desvendar a existência de vida fora do nosso planeta. A Agência Espacial Norte-Americana (NASA) comunicou, dias atrás, a identificação de possíveis bioassinaturas em uma rocha específica, localizada no leito da cratera de Jezero.

Essa região marciana, que em bilhões de anos passados abrigava rios e lagos, revelou uma combinação intrigante de minerais e material orgânico em uma rocha nomeada Chevaya Falls. Essa composição mineralógica e orgânica pode, portanto, apontar para a existência de vida antiga. Cientistas da agência espacial especulam que se tratam de microfósseis, subprodutos do metabolismo microbiano liberados após a “alimentação” de matéria orgânica. Embora a notícia já circulasse em círculos internos da NASA há cerca de um ano, sua divulgação pública ocorreu somente após a revisão por pares de especialistas e a subsequente publicação de um artigo na renomada revista Nature.

Uma equipe internacional de cientistas considerou os achados extremamente relevantes. Contudo, o artigo ressalta que as evidências não são conclusivas. Isso porque, existe também a possibilidade de os sinais serem de origem abiótica, ou seja, resultantes de um processo químico não biológico, sem a presença de vida. A astrônoma brasileira Rosaly Lopes, vice-diretora de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory da NASA, enfatiza que, embora os resultados sejam animadores, a confirmação só virá com a análise das amostras em laboratórios terrestres. Além disso, o administrador interino da NASA, Sean Duffy, informou que o retorno das amostras à Terra ainda depende de avaliações orçamentárias, tempo disponível e da tecnologia necessária para uma missão de resgate.

A Corrida Espacial e a Busca por Vida Extraterrestre

Mesmo diante dos desafios inerentes à confirmação da vida em Marte, a NASA mantém-se plenamente engajada na corrida espacial, competindo ativamente com potências como China, Índia e Rússia. Esses países se unem, assim, na busca para desvendar primeiramente a grande questão que permeia o Universo: estamos realmente sós nesta vastidão cósmica? Em uma entrevista exclusiva à TV Brasil, Rosaly Lopes, que atua na NASA há mais de 30 anos, discutiu as futuras missões espaciais lideradas pela agência e quão perto estamos de obter respostas sobre a vida em nosso Sistema Solar. Ela destacou que, “um dos maiores objetivos agora da Nasa, da nossa comunidade científica, é saber se existiu vida em outros mundos.”

Análise Detalhada dos Achados em Marte

A publicação do artigo científico na Nature marcou a divulgação oficial dos resultados que já eram conhecidos internamente. A princípio, havia muitas dúvidas sobre a natureza dos achados na rocha, inicialmente denominada Cânion Safira pelos instrumentos do Perseverance. A diferença, agora, é que a publicação em uma revista científica de prestígio como a Nature confere maior aceitação à robustez das análises. Isso significa que, embora ainda não seja uma prova irrefutável de vida fora da Terra, o resultado é amplamente aceito como uma forte indicação de bioassinatura em Marte.

A principal complexidade para o avanço das pesquisas reside, portanto, no fato de que muitos sinais, como os encontrados, podem ter explicações abióticas, ou seja, processos químicos sem a ação ou registro de vida. É notoriamente difícil provar a origem biológica com as medições limitadas que um robô pode realizar em Marte. Não é viável enviar um laboratório completo ao Planeta Vermelho devido ao seu tamanho e peso. Dessa forma, a possibilidade de uma explicação abiótica ainda persiste. Para ter certeza, é imperativo trazer a amostra de volta à Terra, onde análises mais sofisticadas e conclusivas podem ser realizadas.

As pesquisas terrestres sobre a origem da vida em nosso próprio planeta são fundamentais para auxiliar as missões em outros mundos e luas. Por exemplo, o estudo de rochas antigas na Terra, que evidenciam sinais de vida primordial, oferece parâmetros valiosos. Entretanto, a aplicação direta para outros planetas não é simples, pois as condições ambientais diferem significativamente. Lopes argumenta que é crucial investigar se a vida evoluiu em outros planetas, já que até o momento, a Terra é o nosso único exemplo. Consequentemente, não é possível fazer estatísticas ou generalizações com apenas um caso.

Missões Futuras da NASA: Expandindo Fronteiras

Dragonfly e a Investigação de Titã

A missão Dragonfly, planejada para Titã, uma das luas de Saturno, é particularmente fascinante. Ela empregará um super drone equipado com diversos instrumentos, formando um pequeno laboratório voador, com o propósito de buscar material orgânico e vestígios de uma possível evolução da vida. Embora o lançamento esteja previsto para 2028 ou 2029, dependendo do orçamento, a missão já foi confirmada pela NASA, garantindo os recursos necessários. O principal objetivo da Dragonfly é, sem dúvida, encontrar sinais de que a vida possa ter se desenvolvido em Titã. Além disso, mesmo que esses sinais não sejam encontrados, a missão promete um estudo aprofundado da geologia de Titã, considerada uma das luas mais intrigantes do sistema solar.

Psyche e a Análise de Objetos Interestelares

Lançada em 2023, a missão Psyche tem como meta investigar um asteroide rico em metais, visando compreender sua origem ao orbitá-lo. Recentemente, a comunidade científica observou o objeto interestelar 3I/Atlas, que apresentou um comportamento atípico em trajetória e velocidade. Mesmo com características raras e especulações sobre sua natureza, artigos científicos o classificam como um cometa oriundo de outro sistema solar. Rosaly Lopes aponta que este não é o primeiro objeto interestelar descoberto (Oumuamua em 2017 e 2I/Borisov em 2019 foram os anteriores). Seria extremamente valioso estudar esses objetos para comparar cometas de outros sistemas solares com os do nosso. Contudo, o principal desafio reside na ausência de uma tecnologia capaz de lançar rapidamente uma missão para alcançá-los, pois sua passagem é questão de meses, não de anos. Mesmo assim, a NASA utilizará todas as missões possíveis, incluindo a Psyche, para capturar imagens distantes do 3I/Atlas.

Artemis II e a Representatividade Feminina

A missão Artemis II, prevista para 2026, marca o retorno da humanidade à Lua, e, pela primeira vez, contará com a presença de uma mulher, a astronauta Christina Koch, que sobrevoará nosso satélite natural. Rosaly Lopes considera a participação feminina nesta missão de suma importância, pois inspira meninas e mulheres a buscarem carreiras em ciência e tecnologia. Ela compartilha sua própria experiência, citando a inspiração que uma foto e um artigo de jornal sobre Poppy Northcutt, uma mulher trabalhando no programa Apollo, representou para ela. Lopes reitera a necessidade de inclusão, afirmando que “mulheres são, pelo menos, 50% da população. Então, não se deve excluir mulheres, 50% da população, de qualquer área, porque isso representa 50% dos talentos e da inteligência que pode ser usada para o bem da humanidade.”

O Legado do Telescópio Espacial James Webb

As imagens do supertelescópio James Webb, lançado em 2021, são verdadeiramente espetaculares, revelando aspectos do Universo jamais vistos. Escolher uma única imagem ou descoberta como a mais surpreendente é uma tarefa difícil. Rosaly Lopes faz questão de lembrar que, inicialmente, a proposta e construção do James Webb geraram controvérsia devido ao seu custo extremamente elevado, que triplicou o orçamento estimado para US$10 bilhões. Muitos cientistas, a princípio, se opuseram ao projeto, temendo que ele drenasse recursos de outras missões potenciais. No entanto, o James Webb demonstrou ser um sucesso colossal. Atualmente, a maioria dos cientistas concorda que o investimento financeiro e de recursos valeu a pena. Lopes conclui que, para alcançar os maiores avanços na ciência, é frequentemente necessário um investimento substancial, tornando o James Webb uma “história incrível de sucesso”.

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