Milhares de pessoas tomaram as ruas da Praça da República, em São Paulo, neste domingo (7), para uma manifestação robusta organizada por movimentos sociais e centrais sindicais. O ato teve como pilares a defesa incondicional da soberania nacional, a promoção de pautas essenciais para os trabalhadores e, notavelmente, a oposição veemente à anistia para envolvidos em atos antidemocráticos, bem como a qualquer forma de intervenção externa, como as tarifas impostas pelo governo de Donald Trump. O evento, que se estendeu por uma avenida adjacente, demonstrou a força da mobilização popular em um dia de significado histórico para o país.
Pautas Centrais e Reivindicações
Os manifestantes levantaram diversas bandeiras que espelham as demandas da classe trabalhadora. Entre as principais exigências, destacaram-se o fim da jornada de trabalho 6×1, que impacta diretamente a vida de milhões de brasileiros, e a proposta de isenção do Imposto de Renda para cidadãos com rendimentos de até R$ 5 mil mensais. Além disso, a pauta incluiu a defesa de uma tributação mais progressiva, visando taxar de forma mais justa os segmentos de maior riqueza da sociedade. Essas reivindicações, portanto, apontam para uma busca por maior equidade social e melhores condições de trabalho.
Em contrapartida às demandas sociais, uma forte corrente de oposição marcou o protesto. A anistia para os responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro foi categoricamente rejeitada pelos participantes, que veem tal medida como um retrocesso democrático. Adicionalmente, a mobilização expressou clara desaprovação a intervenções estrangeiras que possam comprometer a autonomia do Brasil, citando especificamente a política de tarifas do ex-presidente americano Donald Trump como exemplo de pressão externa indesejável.
Vozes do Movimento: Compromisso e Resistência
Representantes dos movimentos sociais enfatizaram a resiliência e a determinação dos militantes. Gilmar Mauro, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), um dos organizadores, proferiu um discurso carregado de simbolismo. Ele afirmou que, apesar de terem enfrentado governos de direita, superado uma pandemia, resistido a um governo neofascista e confrontado a ameaça de um golpe militar, os movimentos sociais permanecem firmes na Praça da República. Segundo Mauro, essa persistência é uma prova de que não se forjaram covardes, mas sim militantes sérios e engajados, que não se deixarão subjugar.
Por sua vez, o deputado estadual Antônio Donato, liderança do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, reforçou a importância da presença nas ruas e nas redes. Ele declarou que a mobilização serve para combater os ataques à soberania nacional e para defender a democracia. Donato alertou sobre um “novo golpe” em gestação, referindo-se à possível anistia, e salientou que o povo, ao se manifestar, demonstra claramente sua recusa a tal medida. Portanto, as ruas se tornaram um palco crucial para a expressão da vontade popular.
Contra Anistia e Interferência Estrangeira
A pauta anti-anistia reverberou nos discursos, que também fizeram menção ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro. Igualmente, houve críticas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e às mobilizações da direita que pleiteiam a anistia. Além disso, a manifestação serviu como palco para a condenação de intervenções dos Estados Unidos no continente, um tema que gerou forte reações entre os presentes. A defesa da soberania, assim, permeou todas as falas.
Miguel Torres, dirigente da Força Sindical, sublinhou a duplicidade do ato: celebrar conquistas e, simultaneamente, reafirmar a luta contínua. Ele destacou a necessidade de combater a invasão territorial, a interferência estrangeira na soberania do país, a impunidade e qualquer proposta de anistia. Torres concluiu que é imperativo manter a vigilância contra políticos que negligenciam os interesses da sociedade e conspiram contra o Brasil. Por conseguinte, a unidade dos movimentos se mostra vital neste momento.
O Contraste da Democracia no 7 de Setembro
O ato bolsonarista, agendado para a mesma tarde em São Paulo, foi um ponto de comparação nos discursos e entrevistas. Ricardo Bonfim, coordenador-geral da Central de Movimentos Populares, expressou sua convicção de que não há democracia se a anistia for aprovada, pois tal decisão desmotivaria tanto os brasileiros quanto a comunidade internacional e a própria Justiça brasileira. Bonfim ressaltou a natureza democrática do 7 de Setembro, que permite manifestações tanto para os movimentos progressistas na Praça da República quanto para a extrema direita na Paulista. Ele ponderou que, se dependesse destes últimos, um golpe teria sido desferido no Brasil, impedindo qualquer forma de protesto por parte da população.
Presença e Diversidade nas Ruas
A Praça da República foi palco de uma rica tapeçaria de rostos, roupas e cores, evidenciando a diversidade dos militantes de esquerda, desde os partidos mais tradicionais até as agremiações mais recentes. Uma das figuras de destaque foi Malvina Joana de Lima, uma pedagoga aposentada de 72 anos, petista há 44 anos. Tendo participado da vigília Lula Livre por 580 dias, Malvina declarou que nem o frio nem a chuva a afastam das ruas. Ela reiterou que lutou e resistiu pela pátria, afirmando que o Brasil pertence aos brasileiros e não pode ser ditado por potências externas como os Estados Unidos. Contudo, ela também expressou otimismo, esperando que na próxima semana haja motivos para celebrar a justiça, com os responsáveis pelos atos antidemocráticos sendo devidamente responsabilizados.
Maria das Graças, auxiliar de enfermagem aposentada e participante do movimento de moradia, também marcou presença desde o início da manhã. Ela enfatizou a importância de sair às ruas em pleno feriado de 7 de Setembro. Para Maria, estar presente na manifestação é fundamental para mostrar o que o povo deseja e para continuar participando ativamente da luta por um país mais justo. Assim, a mobilização contou com a participação de cidadãos engajados de diferentes gerações e trajetórias.
Apoio Governamental e Relevância Nacional
O ato em São Paulo também contou com a presença de figuras proeminentes do cenário político nacional. Os ministros Luiz Marinho, do Trabalho e Emprego, e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, participaram da mobilização, representando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente, por sua vez, acompanhou os desfiles cívicos em Brasília. A presença ministerial, portanto, sublinhou a relevância do evento e a sintonia das pautas defendidas pelos movimentos sociais com a agenda governamental.