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Caminhos para Exu celebra união contra intolerância religiosa em Brasília

Caminhos para Exu reuniu mais de cem pessoas em Brasília neste domingo (7), em celebração da fé e resistência das religiões de matriz africana contra a intolerância religiosa.
Caminhos para Exu Brasília
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Mais de uma centena de fiéis e apoiadores das religiões de matriz africana se reuniram em Brasília no último domingo (7) para a celebração “Caminhos para Exu”. O evento representou um poderoso ato de fé e resistência, visando combater a intolerância religiosa e afirmar a presença vibrante dessas comunidades na capital federal.

Caminhos para Exu: Uma Celebração de Fé e Resistência

A iniciativa, que congregou praticantes de diversas vertentes como candomblé, umbanda, quimbanda e ifá, bem como muitos simpatizantes, aconteceu em um trecho da avenida W3 Sul, conectando a Praça das Avós (506 Sul) à Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles. A escolha do dia 7 de abril não foi aleatória; este número possui uma profunda conexão simbólica com o orixá Exu, representando a união entre os planos espiritual e material, um conceito fundamental nas crenças africanas.

Inspirado na aclamada Marcha para Exu, que em São Paulo já alcançou sua terceira edição, reunindo milhares na Avenida Paulista, o “Caminhos para Exu” em Brasília demonstrou o crescente movimento de visibilidade e luta contra o preconceito. Kika Ribeiro, cantora e uma das idealizadoras do evento na capital, enfatizou o propósito central da manifestação. “Nosso principal objetivo é mostrar que existimos; que estamos vivos”, declarou ela à Agência Brasil, ressaltando a urgência de reconhecimento e respeito.

Além disso, Kika Ribeiro reiterou a mensagem de inclusão do evento. “Estamos dizendo não à intolerância religiosa, para que todos, independentemente de suas religiões, possam viver conforme sua fé, seus credos, um respeitando o outro”, explicou. A recepção calorosa do público motivou a idealizadora a considerar a possibilidade de uma segunda edição do “Caminhos para Exu” ainda este ano, possivelmente em dezembro.

O Significado de Exu e o Apoio Cultural

A diversidade de participantes foi um dos pontos altos do encontro. Marina Mara, coordenadora cultural da Biblioteca Demonstrativa, observou que, além dos adeptos das religiões de matriz africana, o evento atraiu um grande número de pessoas curiosas e cativadas pelos cânticos, ritmos dos atabaques, agogôs e outros instrumentos. Ela sublinhou a essência do orixá, afirmando: “Isso é Exu! É comunicação, comunhão, prosperidade”. De fato, Exu é uma divindade crucial, tida como mensageira entre os mundos humano e divino e responsável por abrir caminhos, entre outras atribuições.

Adicionalmente, a Biblioteca Demonstrativa, vinculada ao Ministério da Cultura, ofereceu apoio crucial ao evento. Kika Ribeiro destacou que a instituição, por sua missão de reunir todas as manifestações culturais, naturalmente abraçou a iniciativa. Aproveitando a grande afluência de público, a direção da biblioteca estendeu até 15 de setembro a exposição “Cartas à Tereza”, uma homenagem à líder quilombola Tereza de Benguela, símbolo da resistência negra no Brasil.

Contra o Preconceito: A Voz da Comunidade

A yalórisá Francys de Óya, que comanda o terreiro Kwe Oya Sogy em Samambaia, fez questão de prestigiar o encontro em Brasília. Ela expressou sua motivação, afirmando: “O que me motivou a vir foi a força e o amor do povo [de terreiro] de querer mostrar a todos que não somos do mal; que somos alegria, saúde, prosperidade – eixos centrais da vida”. Sua fala ressoa em um contexto onde as religiões de matriz africana frequentemente enfrentam preconceito e atos de violência.

Portanto, o “Caminhos para Exu” não é apenas uma celebração, mas uma manifestação vital contra a estigmatização. Dados recentes corroboram a urgência dessa pauta. O Censo de 2022, por exemplo, revelou que o número de praticantes dessas religiões no Brasil atingiu 1% da população, um aumento superior a 300% em comparação com 2010. Pesquisadores atribuem esse crescimento, em parte, às políticas públicas de enfrentamento à intolerância religiosa. Contudo, informações da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos indicam que essas manifestações espirituais continuam sendo os alvos mais frequentes de intolerância.

Em conclusão, Francys de Óya sintetizou o anseio da comunidade: “Este Caminhos para Exu é justamente para desdemonizarmos nosso orixá. Para dizer a todos que, ao contrário do que muitos dizem e pensam, Exu é bom. É lindo. É amor. Basta olhar para esta festa, para este povo lindo”. A celebração em Brasília, assim como outras pelo país, reafirma a riqueza cultural e espiritual das religiões de matriz africana, promovendo o respeito e a harmonia em uma sociedade plural.

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