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Juro alto: Indústria recua 0,2% em julho e acumula 4 meses sem crescer

Com os juros altos, a produção industrial brasileira recuou 0,2% em julho, atingindo o quarto mês consecutivo sem expansão, segundo dados do IBGE.
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Foto: REUTERS/Washington Alves/Proibida reprodução

A produção industrial brasileira registrou um recuo de 0,2% em julho, marcando o quarto mês consecutivo sem qualquer tipo de expansão, conforme revelam os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse cenário de estagnação é predominantemente atribuído à persistência de taxas de juros elevadas no país, as quais impactam diretamente o ambiente econômico e as decisões de investimento e consumo.

Análise Detalhada da Performance Industrial Recente

A retração de 0,2% na passagem de junho para julho evidencia uma continuidade da fragilidade no setor. Assim sendo, a indústria acumulou uma perda total de 1,5% entre abril e julho, um período que englobou quedas de 0,7% em abril e 0,6% em maio, além de uma estabilidade em junho. Este período de quatro meses sem crescimento é um fenômeno que não ocorria desde o intervalo entre novembro de 2022 e fevereiro de 2023, conforme apontam os registros históricos do setor.

Entretanto, ao comparar o desempenho de julho com o mesmo mês do ano anterior (julho de 2024), a produção industrial nacional mostra um leve avanço de 0,2%. Em uma perspectiva mais ampla, nos últimos 12 meses, o setor apresenta uma expansão de 1,9%. Ademais, o patamar atual de julho se encontra 1,7% acima do nível pré-pandemia de COVID-19 (fevereiro de 2020), mas ainda permanece 15,3% abaixo do recorde histórico alcançado em maio de 2011. Consequentemente, em relação ao fechamento de 2024, o setor observou uma discreta expansão de 0,3%.

Os Reflexos da Política Monetária Restritiva

André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, ressaltou que o quadro negativo predominante desde abril é uma consequência direta da política monetária restritiva adotada pelo Banco Central (BC). Essa estratégia, caracterizada por juros altos, visa primordialmente controlar a inflação. Ele explicou que, em termos conjunturais, os efeitos de uma política monetária mais apertada encarecem o crédito, elevam a inadimplência e, por sua vez, impactam negativamente as decisões de consumo e investimento, limitando o crescimento da produção industrial.

Atualmente, a taxa básica de juros, a Selic, está fixada em 15% ao ano, o patamar mais elevado desde julho de 2006. A intenção por trás de juros tão altos é desestimular o consumo e o investimento, buscando assim “esfriar” a economia, reduzir a procura por bens e serviços e, por conseguinte, diminuir a pressão inflacionária. A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou julho com um acúmulo de 5,23% em 12 meses. Esse percentual se encontra acima da meta governamental de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (atingindo um teto de 4,5%). A taxa tem superado o teto desde setembro de 2024, quando registrou 4,42%, e alcançou seu ponto mais alto desde então em abril, com 5,53%.

Desempenho Segmentado das Atividades Industriais

Na comparação entre junho e julho, o IBGE identificou uma retração em 13 das 25 atividades industriais avaliadas. As quedas mais significativas foram observadas em:

Atividades em Destaque Negativo

  • Metalurgia, com uma diminuição de 2,3%;
  • Outros equipamentos de transporte, recuando 5,3%;
  • Impressão e reprodução de gravações, com uma queda acentuada de 11,3%;
  • Bebidas, que apresentaram retração de 2,2%;
  • Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos, com queda de 3,7%;
  • Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, diminuindo 2%;
  • Produtos diversos, com redução de 3,5%;
  • Produtos de borracha e de material plástico, que recuaram 1%.

Atividades em Destaque Positivo

Por outro lado, algumas atividades mostraram crescimento, contribuindo positivamente para o setor. Dentre elas, destacam-se os produtos farmoquímicos e farmacêuticos (7,9%), os produtos alimentícios (1,1%), as indústrias extrativas (0,8%) e os produtos químicos (1,8%).

Em relação às grandes categorias de uso, os bens de consumo duráveis (-0,5%) e os bens de capital (-0,2%), que englobam máquinas e equipamentos, também registraram quedas no período analisado. Em contrapartida, os bens intermediários – ou seja, aqueles destinados a serem transformados em outros produtos – cresceram 0,5%, e os bens de consumo semi e não duráveis aumentaram 0,1%.

Impacto de Fatores Externos e Perspectivas Futuras

Conforme André Macedo, o resultado de julho também capturou reflexos da expectativa em torno do chamado tarifaço americano, que, embora tenha começado apenas na primeira semana de agosto, já influenciou as expectativas e decisões de empresários, especialmente aqueles com foco no mercado externo, devido à ameaça de taxação sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos. Contudo, Macedo reiterou que a política de juros continua sendo o fator predominante para o cenário negativo desde abril.

Ele minimizou o impacto do tarifaço no resultado geral do mês, afirmando que, “dentro do resultado geral, [o tarifaço] não tem muita importância no momento”. Portanto, a desaceleração da indústria permanece intimamente ligada às condições econômicas internas, dominadas pela política monetária restritiva, que continua a moldar o panorama produtivo nacional.

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