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Principal causa de deficiência visual infantil é corrigível, alerta CBO

Erros de refração são a principal causa de deficiência visual infantil no Brasil. O CBO alerta que, apesar de corrigíveis, impactam gravemente o aprendizado e a socialização se não diagnosticados.
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Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Erros de refração não corrigidos representam, de fato, a principal causa de deficiência visual entre crianças brasileiras, conforme alerta o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Apesar de serem condições geralmente passíveis de correção, seus impactos no aprendizado e na socialização infantil podem ser severos se não forem identificados e tratados precocemente, gerando significativas consequências sociais e econômicas para o país.

Ameaça Oculta: Erros Refrativos na Infância

Dados alarmantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam a dimensão do problema. Um estudo abrangente sobre a prevalência de deficiência visual por erros de refração não corrigidos na América do Sul, especificamente na faixa etária de 5 a 15 anos, estima que aproximadamente 0,7% das crianças e adolescentes nessa idade são afetados. Consequentemente, isso projeta a existência de cerca de 23 milhões de jovens em idade escolar com algum tipo de problema de refração na região, sublinhando a urgência de intervenções eficazes.

Esses distúrbios, conhecidos cientificamente como ametropias ou erros refrativos, surgem quando os raios de luz não são focalizados corretamente na retina, levando a uma visão embaçada ou distorcida. Entre as condições mais comuns, por exemplo, estão a miopia, caracterizada pela dificuldade em enxergar objetos distantes; a hipermetropia, que afeta a visão de perto; e o astigmatismo, que provoca uma visão distorcida tanto de perto quanto de longe. Entretanto, o CBO enfatiza que todas essas condições são amplamente corrigíveis, seja por meio do uso de óculos, lentes de contato ou, em alguns casos, cirurgia refrativa.

Compreendendo as Ametropias e Sua Correção

O tratamento precoce, ademais, desempenha um papel crucial na prevenção de complicações secundárias. Ele não só melhora a acuidade visual, mas também ajuda a reduzir significativamente a incidência de ambliopia, conhecida popularmente como “olho preguiçoso”. Essa condição ocorre quando um olho não se desenvolve visualmente de forma adequada, muitas vezes devido à falta de estímulo visual correto durante a infância.

Por essa razão, a triagem oftalmológica é considerada uma ferramenta fundamental do ponto de vista da saúde pública. Ela permite a detecção antecipada de possíveis doenças oculares e, assim, previne casos de cegueira infantil evitável. A idade ideal para realizar essa triagem, conforme recomendado pela entidade, situa-se entre os primeiros meses de vida e os 6 anos de idade. Este período é crucial, pois é quando ocorre o desenvolvimento visual mais intenso e as intervenções podem ter maior impacto.

A Urgência da Detecção Precoce e Priorização

Diante desse cenário, o CBO defende veementemente que a saúde ocular infantil seja tratada como uma prioridade inadiável, tanto por famílias quanto por órgãos públicos. Afinal, problemas de visão que permanecem sem diagnóstico e tratamento podem comprometer irreversivelmente o processo de aprendizagem da criança e sua capacidade de socialização, impactando seu desenvolvimento integral.

Estimativas da Agência Internacional de Prevenção à Cegueira (IAPB) corroboram essa preocupação. A organização aponta que o Brasil pode ter aproximadamente 27 mil crianças cegas, com uma parcela considerável desses casos resultante de doenças que poderiam ter sido prevenidas ou tratadas em estágios iniciais. A IAPB ainda destaca que, em virtude da vasta diversidade regional e das marcantes desigualdades socioeconômicas presentes no país, a prevalência média de cegueira infantil pode variar entre 0,5 e 0,6 por mil crianças, evidenciando a necessidade de políticas públicas abrangentes e equitativas.

Iniciativa Essencial: A Cartilha “Saúde Ocular na Infância”

Para fortalecer a conscientização e oferecer suporte prático, o CBO, em colaboração com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (Sbop), lançou em julho uma valiosa iniciativa: a cartilha Saúde Ocular na Infância. Este material educativo foi desenvolvido para reunir orientações práticas, cuidados essenciais e sinais de alerta, visando auxiliar pais e educadores a preservar a visão das crianças.

A cartilha aborda uma vasta gama de tópicos relevantes, incluindo desde a prevenção e o tratamento de condições comuns como a conjuntivite e o terçol, até as diretrizes para o uso correto de óculos e as precauções relativas à maquiagem infantil. Além disso, o documento é estruturado em seis seções distintas, que detalham desde as fases do desenvolvimento visual do bebê e da criança, até as orientações cruciais sobre a importância e a realização de exames oftalmológicos regulares, servindo como um guia completo para a promoção da saúde ocular na primeira infância.