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Lula critica sanções dos EUA e defende Mais Médicos e Cuba

Nesta quinta-feira, Lula criticou sanções dos EUA a Cuba e defendeu o Mais Médicos, após Washington revogar vistos de brasileiros por ligação ao programa.
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Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em declaração feita nesta quinta-feira (14), expressou forte censura às sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos a Cuba. Paralelamente, defendeu enfaticamente a continuidade do Programa Mais Médicos, uma iniciativa brasileira de saúde pública que, em sua concepção original, contou com a valiosa cooperação de profissionais cubanos. Tais comentários surgem em um momento de tensão diplomática, logo após Washington ter revogado os vistos de diversos cidadãos brasileiros, incluindo funcionários governamentais e ex-integrantes da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em razão de suas conexões com o programa de intercâmbio médico.

Contexto das Sanções e Revogação de Vistos

Na quarta-feira anterior (13), o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, anunciou a retirada dos vistos de importantes figuras, como Mozart Julio Tabosa Sales, atual secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, e Alberto Kleiman, que já atuou como assessor de Relações Internacionais na mesma pasta e hoje coordena a preparação para a COP30. Esta medida, segundo o presidente Lula, está diretamente ligada à participação desses indivíduos em iniciativas que envolvem Cuba, o que ele descreveu como uma reação desproporcional.

Lula, durante um evento em Goiana, Pernambuco, reiterou a postura de respeito do Brasil para com Cuba. Ele classificou o bloqueio econômico que os Estados Unidos mantêm contra a ilha caribenha há mais de seis décadas como injustificado e cruel. “A decisão de caçar o visto do Mozart foi por causa de Cuba. Portanto, é fundamental que eles compreendam que nossa relação com Cuba é de profundo respeito a um povo que tem sido vítima de um bloqueio prolongado e sem sentido”, declarou o presidente. Ademais, ele criticou a política externa norte-americana, instando os EUA a aceitarem o desfecho da Revolução Cubana e a permitirem que os cubanos vivam em paz, sem interferências externas.

O embargo econômico, instaurado desde a década de 1960 com o propósito de derrubar o regime político cubano estabelecido em 1959, impacta severamente a economia do país. A exportação de serviços médicos, por exemplo, é uma das principais fontes de receita para Cuba. Nesse cenário, desde o segundo mandato do governo Donald Trump, tem havido tentativas de pressionar nações que recebem esses profissionais. No entanto, países caribenhos como São Vicente e Granadinas, Barbados e Trinidad e Tobago já manifestaram publicamente seu apoio e defesa aos acordos de cooperação firmados com a nação cubana, demonstrando solidariedade.

Historicamente, Cuba possui um vasto histórico de colaboração médica internacional, que remonta aos anos 1960. Segundo dados do Ministério da Saúde cubano, um impressionante número de 605 mil médicos atuaram em 165 países ao longo das décadas, incluindo nações como Portugal, Ucrânia, Rússia, Espanha, Argélia e Chile. A participação de médicos cubanos no programa Mais Médicos, no Brasil, ocorreu entre 2013 e 2018, por meio de um acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

A Defesa do Programa Mais Médicos

Ao abordar a criação do Mais Médicos, o presidente Lula enfatizou que o programa foi uma resposta direta à carência de profissionais de saúde em vastas áreas do país, especialmente em regiões mais remotas e vulneráveis. Ele observou que, apesar das críticas iniciais de parte da comunidade médica, a realidade demonstrada pelos prefeitos e gestores municipais é a de uma necessidade premente de médicos. “Quando lançamos o Mais Médicos, qual era a principal objeção de alguns médicos? Acreditavam que não havia falta de profissionais. Contudo, os prefeitos, na prática, reconhecem a escassez, especialmente para locais na periferia ou cidades interioranas, onde é difícil atrair e manter médicos”, explicou o presidente.

Lula, portanto, defendeu a prerrogativa do governo em tomar decisões estratégicas para suprir as demandas de saúde pública, diferenciando as necessidades das diversas regiões brasileiras. É importante ressaltar que o Mais Médicos, inicialmente implementado em seu segundo governo, passou por reformulações durante a gestão de Jair Bolsonaro e foi posteriormente ampliado no atual terceiro mandato do presidente.

Soberania Nacional na Produção de Medicamentos

Ainda em Goiana, Pernambuco, o presidente Lula participou de um evento significativo para a saúde e a soberania nacional: a inauguração de dois novos blocos de produção de medicamentos hemoderivados na Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). Essas modernas unidades representam um avanço crucial para o Brasil, pois permitirão ao país alcançar uma inédita autonomia no fracionamento de plasma humano, um componente vital extraído do sangue doado em hemocentros brasileiros.

O investimento na planta industrial totalizou R$ 1,9 bilhão e resultará na produção de medicamentos de alto custo, essenciais para o Sistema Único de Saúde (SUS). Entre eles, destacam-se a albumina, a imunoglobulina e os fatores de coagulação VIII e IX, utilizados no tratamento de pacientes com queimaduras graves, hemofilia, doenças raras e em grandes cirurgias. Lula ressaltou a importância estratégica da nova unidade, afirmando que ela simboliza um marco para a soberania do país na produção de fármacos essenciais e um passo adiante na autossuficiência do setor. “A Hemobrás veio para ficar e para demonstrar que o Brasil é soberano e não se curva a ameaças”, declarou Lula, aproveitando a ocasião para criticar as recentes sanções dos Estados Unidos contra o Brasil.

Avanços e Futuro da Hemobrás

Atualmente, a Hemobrás supre o sistema público de saúde com produtos oriundos de acordos de transferência de tecnologia. Em 2024, a empresa atingiu um recorde, entregando 552 mil frascos de hemoderivados e 870 milhões de Unidades Internacionais de medicamentos recombinantes. Com a inauguração dos blocos B02 (fracionamento de plasma) e B03 (envase e liofilização), e a instalação dos equipamentos, a nova fábrica inicia o processo de qualificação de seus processos, uma etapa obrigatória no rigoroso setor farmacêutico. A expectativa é que, já no próximo ano, a Hemobrás comece efetivamente a fracionar o plasma, obtendo as proteínas que se transformarão nos medicamentos após o refinamento. Em quatro anos, a capacidade de produção deve atingir até 500 mil litros de plasma fracionado anualmente, resultando em seis tipos distintos de medicamentos.

A Hemobrás, vinculada ao Ministério da Saúde, desempenha um papel fundamental na cadeia de suprimentos, recolhendo plasma excedente de 72 hemocentros públicos e serviços de hemoterapia por todo o território nacional. Este insumo, que historicamente era enviado para processamento no exterior, agora terá uma parcela significativamente maior de sua produção realizada em solo brasileiro. No ano passado, vale lembrar, o presidente Lula inaugurou o bloco B07 do complexo industrial da Hemobrás, dedicado à fabricação de medicamentos biotecnológicos. Essa unidade já é responsável pela embalagem do Hemo-8r, um medicamento crucial para o tratamento da hemofilia A.

Após rigorosas fases de qualificação de equipamentos e processos, a planta recebeu em julho uma inspeção e um certificado de boas práticas de fabricação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com essa aprovação, a Hemobrás está apta a executar a primeira das três etapas da produção nacional e prevê entregar ao SUS 300 mil frascos do Hemo-8r até o final do ano. O próximo estágio, ainda no segundo semestre, será o envase do primeiro lote de medicamentos. Por fim, até o encerramento de 2026, será concluída a última etapa, que envolve a fabricação do insumo farmacêutico ativo (IFA), consolidando a produção nacional.

Agenda Futura do Presidente

Ainda nesta quinta-feira, o presidente Lula terá compromissos no Recife. Na capital pernambucana, ele anunciará novas ações do programa “Agora Tem Especialistas” e entregará títulos de regularização fundiária à comunidade de Brasília Teimosa, encerrando sua agenda na região.

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