O Banco do Brasil (BB) registrou uma significativa retração em seu desempenho financeiro durante o primeiro semestre, com o lucro líquido ajustado caindo 40,7% para R$ 11,2 bilhões. Este resultado foi diretamente influenciado por um conjunto de fatores desafiadores, incluindo a implementação de novas normativas contábeis e um perceptível aumento nas taxas de inadimplência.
Análise do Desempenho Financeiro
De janeiro a junho deste ano, a instituição financeira, um dos pilares do sistema bancário nacional, acumulou um lucro líquido ajustado de R$ 11,2 bilhões. Entretanto, este montante representa uma redução de 40,7% em comparação ao mesmo intervalo do ano anterior, conforme detalhado no balanço divulgado pela empresa na noite de quinta-feira, 14 de novembro.
Adicionalmente, uma análise mais aprofundada do segundo trimestre, que compreende os meses de abril a junho, revela um lucro ainda mais contido, totalizando R$ 3,8 bilhões. Em contrapartida, este valor demonstra uma queda de 60% quando comparado ao desempenho registrado no segundo trimestre de 2023. Em comunicação oficial, a presidenta do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, afirmou que o período atual é de ajustamento estratégico, visando uma futura expansão.
“O ano de 2025 é crucial para um ajuste que impulsionará o crescimento. Projeta-se um lucro entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões, e continuamos a direcionar investimentos em infraestrutura para gerar valor aos nossos acionistas, ao mesmo tempo em que buscamos oferecer a melhor experiência e soluções mais adequadas aos nossos clientes”, destacou Medeiros em comunicado. Ela ainda enfatizou que essa visão perpassa o relacionamento próximo, o uso intensivo de tecnologia e a contínua capacitação dos colaboradores. Apesar da perspectiva de crescimento, a projeção máxima de R$ 25 bilhões para 2025 ainda se mostra inferior ao lucro recorde de R$ 37,9 bilhões alcançado em 2024, conforme noticiado pela Agência Brasil.
Impacto das Novas Regras Contábeis
Uma das principais razões para a queda nos lucros reside na entrada em vigor, em janeiro, de uma resolução emitida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) que alterou profundamente a contabilidade das instituições financeiras. Embora aprovadas em 2021, essas novas diretrizes só foram implementadas neste ano, exercendo um peso considerável sobre os resultados.
A referida resolução modificou o regime de provisões, que são as reservas financeiras destinadas a cobrir eventuais perdas com calotes. Anteriormente, o modelo baseava-se em provisões para perda esperada, fundamentadas em estimativas. Consequentemente, a forma como certas despesas e receitas são agora reconhecidas no balanço do banco foi diretamente afetada. Por exemplo, sob as novas regras, o reconhecimento das receitas de juros de operações classificadas como estágio 3 (com atrasos superiores a 90 dias) passou a ser feito pelo regime de caixa. Isso significou que o banco deixou de contabilizar R$ 1 bilhão em receitas de crédito, visto que o regime de caixa somente permite o registro de receitas quando o dinheiro é efetivamente recebido pela instituição financeira.
Crescimento da Inadimplência
Paralelamente às mudanças contábeis, o índice de inadimplência também se apresentou como um fator de pressão sobre os resultados. Os atrasos superiores a 90 dias registraram um aumento, elevando-se para 4,21% no segundo trimestre. Em comparação, este índice era de 3,86% no primeiro trimestre de 2024 e de 3% no segundo trimestre do ano passado. Este cenário é especialmente influenciado pelo segmento do agronegócio, onde o Banco do Brasil detém uma posição de liderança na concessão de crédito, evidenciando uma sensibilidade maior a oscilações nesse setor.
Revisão das Metas para 2025
Dada a conjuntura de queda nos lucros, o Banco do Brasil procedeu a uma revisão de suas projeções para o ano de 2025. As novas estimativas demonstram um ajuste nas expectativas para diversos indicadores financeiros. Inicialmente, a projeção de crescimento da carteira de crédito foi reavaliada para uma faixa entre 3% e 6%, contrastando com a estimativa anterior que variava de 5,5% a 9,5%.
Ademais, a margem financeira bruta, um novo item na divulgação, foi estimada entre R$ 102 bilhões e R$ 105 bilhões. Similarmente, o custo do crédito, que engloba as perdas esperadas com inadimplência e outros riscos, foi projetado entre R$ 53 bilhões e R$ 56 bilhões. O lucro líquido ajustado, por sua vez, foi ajustado para R$ 21 bilhões a R$ 25 bilhões. É importante notar que as projeções para margem financeira bruta, custo do crédito e lucro líquido ajustado não haviam sido divulgadas em maio. Por outro lado, as receitas com serviços mantiveram-se na projeção anterior, entre R$ 34,5 bilhões e R$ 36,5 bilhões, assim como as despesas administrativas, que permaneceram entre R$ 38,5 bilhões e R$ 40 bilhões.
Expansão da Carteira de Crédito
Apesar da retração nos lucros, o Banco do Brasil demonstrou um vigoroso crescimento na concessão de crédito durante o segundo trimestre. A carteira de crédito ampliada encerrou o mês de junho com um volume de R$ 1,3 trilhão, assinalando um avanço de 1,3% em relação ao trimestre anterior e um expressivo aumento de 11,2% em 12 meses.
Crédito por Segmento
A distribuição por segmentos da carteira de crédito revela performances distintas. No segmento de Pessoa Física, o total atingiu R$ 342,6 bilhões ao final de junho, representando um crescimento de 2% no trimestre e de 8% em um ano. Um destaque notável foi a introdução da nova modalidade de crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada (CLT).
A carteira de Pessoa Jurídica alcançou R$ 468 bilhões, com uma alta de 1,8% no trimestre e 14,7% em um ano. Desse valor, R$ 271 bilhões foram direcionados a grandes empresas, enquanto R$ 75 bilhões foram alocados para clientes do setor governamental.
No agronegócio, setor estratégico para o banco, o volume de crédito chegou a R$ 404,9 bilhões, apresentando um crescimento de 8% em um ano, com foco nas linhas de custeio e investimento. Nos nove meses do Plano Safra 2024/2025, o Banco do Brasil desembolsou R$ 225,8 bilhões para o segmento. Além disso, a instituição projeta emprestar R$ 230 bilhões para o próximo Plano Safra 2025/2026.
Finalmente, a Carteira de Crédito Sustentável totalizou R$ 396,5 bilhões, dedicada ao financiamento de atividades que promovem impactos sociais e ambientais positivos, com um aumento de 10,6% em 12 meses.
Receitas de Serviços e Despesas Operacionais
As receitas provenientes da prestação de serviços somaram R$ 8,8 bilhões no segundo trimestre. Embora este valor represente um aumento de 4,7% em comparação ao trimestre anterior, denota uma queda de 1% em relação a junho do ano passado. Por outro lado, as despesas administrativas totalizaram R$ 9,7 bilhões no mesmo período. Isso corresponde a um aumento de 1,9% em relação ao primeiro trimestre e de 4,7% na comparação anual com junho de 2024. A elevação foi justificada pelo Banco do Brasil em função da contratação de novos funcionários aprovados no último concurso público, bem como pelo reajuste salarial de 4,6% concedido em setembro do ano anterior.
Política de Dividendos e Impacto
Em virtude da diminuição dos lucros, o Banco do Brasil optou por reduzir a parcela do lucro distribuída aos seus acionistas, passando de 40% para 30%. Consequentemente, em julho, o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, documento que norteia a execução do Orçamento, revisou a projeção de dividendos de estatais para 2025. O valor foi ajustado de R$ 43,4 bilhões para R$ 41,9 bilhões. Na ocasião, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, explicitou que a redução se deu majoritariamente pela diminuição dos dividendos pagos pelo Banco do Brasil ao governo, que é seu maior acionista.