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Médicos cubanos no Brasil repudiam sanções dos EUA contra Mais Médicos

A Associação dos Médicos Cubanos no Brasil repudiou as sanções dos EUA contra gestores ligados ao Mais Médicos, que revogaram vistos sob alegação de "trabalho forçado".
Sanções EUA Mais Médicos
Foto: José Cruz/Agência Brasil

A Associação dos Médicos Cubanos no Brasil (Aspromed) manifestou veemente repúdio às recentes sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos contra gestores públicos brasileiros diretamente envolvidos na estruturação e implementação do programa Mais Médicos. A entidade, ademais, reiterou seu apoio incondicional à duradoura cooperação bilateral entre Cuba e Brasil no setor da saúde. As medidas norte-americanas, que incluem a revogação de vistos, fundamentam-se na controversa alegação de “trabalho forçado” no contexto da iniciativa sanitária.

Sanções Americanas e Seus Alvos

Nesta semana, o Departamento de Estado norte-americano concretizou a revogação de vistos de diversos funcionários do governo brasileiro associados à execução do programa Mais Médicos. Entre os indivíduos afetados, encontram-se Mozart Julio Tabosa Sales, atualmente secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, e Alberto Kleiman, que desempenhou a função de ex-assessor de Relações Internacionais da pasta e hoje atua como coordenador-geral para a COP30. Além disso, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e seus familiares também foram alvo das sanções, uma ação que gerou forte reação no cenário político brasileiro. Em comunicado oficial, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, justificou as penalidades, argumentando que os servidores teriam, de alguma forma, contribuído para um “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano” por intermédio do Mais Médicos.

A Defesa da Aspromed e o Legado do Programa

Em contrapartida, por meio de uma nota de repúdio, a Aspromed enfatizou o caráter essencial do Mais Médicos como uma política pública de saúde destinada a assegurar o acesso à saúde para todos os cidadãos. A associação sublinhou a importância do programa, em especial para a população de baixa renda residente em áreas menos favorecidas por todo o território nacional. Distanciando-se da narrativa apresentada pelo Secretário de Estado norte-americano, a diretoria da Aspromed esclareceu que os profissionais cubanos que optaram por permanecer no Brasil o fizeram por livre e espontânea vontade. Muitos deles, de fato, já obtiveram a naturalização brasileira, constituíram famílias e estabeleceram laços afetivos profundos com o país. A nota assegurou que estes médicos continuarão a exercer suas atividades com dedicação exemplar junto às comunidades mais carentes, levando atendimento e cuidado a indivíduos em condições adversas, mesmo nos recantos mais distantes do território brasileiro.

Adicionalmente, a Aspromed ressaltou o impacto significativo do programa, informando que os aproximadamente 18 mil médicos cubanos que participaram da iniciativa realizaram cerca de 63 milhões de atendimentos. Esse volume expressivo de consultas e procedimentos, portanto, contribuiu decisivamente para o fortalecimento e a legitimação do Sistema Único de Saúde (SUS), reconhecido mundialmente como o maior sistema de saúde universal, público e gratuito. O convênio inicial com Cuba foi encerrado em 2018; entretanto, uma parcela considerável dos profissionais decidiu permanecer no país. A associação estima que cerca de 2.500 médicos cubanos continuam ativos no Brasil. O programa desempenhou um papel crucial no preenchimento de lacunas assistenciais, atendendo não apenas pequenas cidades e distritos indígenas, onde a presença de profissionais de saúde era historicamente escassa, mas também marcando presença nas periferias de grandes centros urbanos, expandindo o acesso à saúde para milhões de brasileiros.

Repercussões e Perspectivas Futuras

As sanções dos EUA e a resposta da Aspromed evidenciam a complexidade das relações internacionais e o impacto direto na cooperação em saúde. O debate sobre o programa Mais Médicos e a participação cubana, desse modo, ganha novas camadas com as acusações de Washington. Em face dessa situação, líderes políticos brasileiros, incluindo o presidente da República, manifestaram-se em defesa do programa e da relação com Cuba, reiterando a soberania nacional. Por conseguinte, a controvérsia não apenas afeta os indivíduos diretamente sancionados, mas também levanta questões mais amplas sobre a autonomia de programas de cooperação internacional e a interpretação de modelos de trabalho em contextos de saúde pública.

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