O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, expressou forte repúdio e classificou como um “ato covarde” a decisão dos Estados Unidos de cancelar os vistos de sua esposa e de sua filha de apenas 10 anos. Este episódio surge em meio a crescentes tensões relacionadas ao programa Mais Médicos, uma iniciativa da qual o ministro foi um dos idealizadores. É relevante mencionar que o próprio visto de Padilha encontra-se vencido desde 2024, o que o impossibilita de ser alvo de cancelamento, mas destaca a natureza específica das sanções aplicadas à sua família.
Indignação e Acusações do Ministro
De acordo com o ministro Padilha, ele foi informado sobre a sanção por meio de uma mensagem enviada por sua esposa, enquanto ele cumpria uma agenda de compromissos em Pernambuco, no dia 15 de agosto. Adicionalmente, Padilha questionou veementemente a atitude do governo norte-americano de aplicar tal medida a uma criança de 10 anos. Ele também direcionou críticas severas a Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, que reside nos Estados Unidos.
Consequentemente, Padilha acusa Eduardo Bolsonaro de orquestrar e articular com membros do governo norte-americano a aplicação de sanções contra o Brasil. Segundo o ministro, o objetivo dessas ações seria pressionar o país, notavelmente o Supremo Tribunal Federal (STF), visando evitar que seu pai enfrente julgamento por suposta tentativa de golpe de Estado. Em uma entrevista concedida à Globonews na mesma sexta-feira, o ministro afirmou: “As pessoas que fazem isso e o clã Bolsonaro, que orquestra isso, têm que explicar. Não para mim, nem só para o Brasil, mas para o mundo inteiro: qual o risco que uma criança de 10 anos de idade pode representar para o governo americano?”. Adicionalmente, ele complementou, “Estou absolutamente indignado. É uma atitude de covardia.”
Para o ministro, o filho do ex-presidente e seus aliados estabeleceram um “verdadeiro escritório do lobby da traição nos Estados Unidos”, uma denúncia grave que ele reitera com veemência.
Contexto das Revogações de Vistos e Justificativa Americana
Nesta semana, o Departamento de Estado dos Estados Unidos havia revogado os vistos de outros funcionários do governo brasileiro que também estavam envolvidos na implementação do programa Mais Médicos. Entre os afetados estavam Mozart Julio Tabosa Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, e Alberto Kleiman, que atuava como ex-assessor de Relações Internacionais da pasta e atualmente coordena a participação brasileira na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30).
Por outro lado, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, justificou as revogações por meio de um comunicado. Ele alegou que os servidores teriam contribuído para o que ele descreveu como um “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano”, perpetrado por intermédio do Mais Médicos. Esta declaração oferece a perspectiva oficial dos EUA para as sanções aplicadas.
O Programa Mais Médicos e a Defesa de Padilha
É importante ressaltar que Alexandre Padilha ocupava o cargo de ministro da Saúde quando o programa Mais Médicos foi instituído, em 2013, durante o governo da então presidente Dilma Rousseff. Esta iniciativa foi criada com o intuito de atender regiões remotas e áreas com notória escassez de profissionais de saúde no Brasil. De 2013 até 2018, médicos cubanos participaram ativamente do programa, por meio de uma cooperação estabelecida com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Ainda assim, o ministro Padilha defendeu com orgulho a criação do programa, enfatizando que sua filha sequer havia nascido quando ele o concebeu. Atualmente, o Brasil não mantém nenhuma parceria com médicos cubanos no âmbito deste programa. Todavia, Padilha destacou que outros países continuam a manter parcerias com esses profissionais. Ele citou, por exemplo, a Itália, ressaltando que a primeira-ministra Giorgia Meloni é uma aliada política do ex-presidente Trump, o que levanta questões sobre a seletividade das sanções.
Em suma, Padilha questionou a lógica por trás das sanções americanas, afirmando: “Qual é a explicação para não haver qualquer tipo de sanção, qualquer crítica a esses outros países [que continuam com a parceria com os médicos cubanos]? Vem fazer uma sanção aqui no Brasil contra servidores brasileiros, contra a família do ministro da Saúde, contra uma criança de 10 anos, sendo que a gente não tem mais parceria com médicos cubanos”, concluiu o ministro, reforçando seu ponto de vista sobre a injustiça percebida.