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Câmara não pauta foro privilegiado nem anistia do 8/1 sem consenso

A Câmara dos Deputados decidiu nesta terça-feira (12) não pautar os projetos de lei sobre foro privilegiado e anistia para os atos de 8 de janeiro, sem consenso entre os líderes.
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Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados optou por não colocar em votação, nesta terça-feira (12), projetos de lei referentes ao foro privilegiado e à anistia para os envolvidos nos eventos de 8 de janeiro. A decisão foi tomada após a ausência de um consenso entre as lideranças partidárias no Colégio de Líderes, sinalizando uma preferência por temas que gerem menos divisão no plenário.

Impasse na Pauta Legislativa

A reunião do colégio de líderes, realizada em 12 de março, encerrou-se sem a inclusão na agenda de votações de propostas consideradas altamente sensíveis. Especificamente, os projetos de lei que tratam do foro especial por prerrogativa de função e da anistia a indivíduos condenados por suposta tentativa de golpe de Estado, relacionados aos atos que se seguiram à eleição presidencial de 2022 e que culminaram na invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro, não foram acolhidos. A maioria das lideranças demonstrou preferência por abordar assuntos que propiciem maior convergência e evitem embates políticos profundos.

O Contexto das Reivindicações da Oposição

É importante ressaltar que a inclusão dessas matérias na pauta figurava entre as principais exigências da oposição durante a mobilização que paralisou os trabalhos na Câmara na semana anterior. Essa manifestação ocorreu no contexto da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, motivada pelo descumprimento de medidas cautelares determinadas pela Justiça. Por outro lado, a oposição tentou condicionar o encerramento do protesto à deliberação dessas pautas cruciais, além de solicitar o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Contudo, a demanda pelo afastamento do ministro foi prontamente rejeitada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Debate sobre o Foro Privilegiado

No que diz respeito ao projeto que altera o foro privilegiado, o líder do PP na Casa, Doutor Luizinho (PP-RJ), informou aos jornalistas que a proposta ainda exige um nível mais aprofundado de discussão. Segundo ele, a pauta somente será definida quando houver uma maior coesão de opiniões entre os líderes partidários. A oposição, por sua vez, almeja a transferência das investigações que envolvem parlamentares do Supremo Tribunal Federal para a primeira instância da Justiça. Eles argumentam que o STF estaria adotando uma postura persecutória contra membros do Congresso. Em contrapartida, críticos da medida alertam que tal iniciativa poderia, na prática, servir como um mecanismo para “blindar” deputados e senadores. Afirmam, ainda, que a primeira instância seria mais suscetível a pressões políticas, o que poderia comprometer a independência e o andamento das investigações.

Rejeição à Anistia e Críticas à Ocupação

Após a reunião de líderes, as lideranças do Partido Liberal (PL) e do Partido Novo optaram por não conceder entrevistas à imprensa, mantendo silêncio sobre o resultado das discussões. Entretanto, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara, esclareceu que a maioria dos partidos participantes da reunião compreendeu que pautar a agenda de anistia e foro seria, na realidade, uma forma de “premiar” aqueles que ocuparam e tumultuaram o plenário da Casa na semana anterior. Consequentemente, o deputado foi enfático ao declarar à imprensa que “quem fez tudo aquilo não poderia ser premiado escolhendo a pauta do Parlamento. Para nós, foi importante, porque novamente não entra anistia e não vai entrar. E a discussão do foro também não entrou. A pauta da chantagem não se impôs no dia de hoje.” Adicionalmente, em resposta aos atos de desrespeito ao decoro, a Mesa Diretora da Câmara encaminhou à Corregedoria da Casa o caso de 14 deputados que, ao ocuparem a mesa do plenário, teriam violado as normas regimentais. A depender do parecer da Corregedoria, os casos poderão ser remetidos ao Conselho de Ética para uma análise mais aprofundada.

Outras Prioridades Legislativas

Em meio ao impasse das pautas mais polêmicas, a Câmara dos Deputados avançou com a deliberação de outros temas de caráter mais consensual. Entre os projetos que foram efetivamente pautados para votação, destacam-se diversos requerimentos para que proposições tramitem em regime de urgência, acelerando seu processo legislativo. Além disso, foram incluídos na agenda o PL 6.461 que institui o Estatuto do Aprendiz, o PL 2.767 que visa a regulamentar os programas de milhagem das companhias aéreas, e o PL 3.163 destinado a determinar, nos processos eleitorais de organizações esportivas, um sistema de recolhimento de votos imunes a fraudes. Tais pautas demonstram um esforço em dar andamento a matérias de interesse geral que não provocam a mesma polarização dos temas vetados.

Perspectivas para o Imposto de Renda

Dessa forma, o líder do PT na Casa reiterou que os temas a serem analisados nesta semana legislativa deverão seguir uma linha de maior consenso. Ele também afirmou que as bancadas governistas pretendem persistir na busca pela votação do projeto de lei que propõe a isenção do Imposto de Renda (IR) para contribuintes que auferem rendimentos de até R$ 5 mil. Essa matéria é considerada uma prioridade para a base aliada do governo. Portanto, Lindbergh Farias justificou a urgência, declarando que “a gente está querendo que o projeto do Imposto de Renda (IR) entre, no máximo, na próxima semana, porque ele tem que ser aprovado no Senado até o final de setembro.” Essa meta demonstra a intenção de agilizar a tramitação para cumprir o prazo estabelecido e possibilitar que a medida entre em vigor o quanto antes.

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