O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), restabeleceu a ordem na sessão plenária na noite de quarta-feira (6), por volta das 22h30, após um período prolongado de obstrução e manifestações por parte da bancada de oposição. Ao reabrir os trabalhos, Motta dirigiu duras críticas à conduta dos parlamentares, enfatizando que qualquer protesto deve estritamente seguir as normas regimentais da Casa e a Constituição Federal. Ele sublinhou a importância de preservar a funcionalidade do parlamento, impedindo que atos individuais se sobreponham à vontade coletiva e aos interesses da nação.
Crítica e Apelo à Ordem Parlamentar
Motta expressou seu descontentamento com a paralisação dos trabalhos que perdurou entre os dias anteriores e o presente, afirmando que tal comportamento não beneficia a instituição. Segundo o presidente, embora a oposição possua o legítimo direito de manifestar suas posições e expressar sua vontade, essa prerrogativa deve ser exercida dentro dos limites impostos pelo regimento interno da Câmara e pela Constituição do país. Ele foi enfático ao declarar que a presidência não tolerará ações que busquem ser maiores do que o Plenário e a soberania da Casa, reforçando a necessidade de respeito às regras democráticas que governam o Legislativo.
Além disso, o parlamentar paraibano fez um apelo para que os deputados priorizem os objetivos maiores do país, evitando que interesses pessoais, projetos individuais ou ambições eleitorais se sobreponham ao bem-estar da população brasileira. Para Motta, a Câmara dos Deputados representa o local onde se constroem as soluções para o Brasil, e essa missão deve estar sempre em primeiro plano. Posteriormente, ele reforçou seu compromisso com as prerrogativas parlamentares e o livre exercício do mandato, mas condicionou esse exercício ao respeito inegociável pelo direito de cada membro se manifestar e, igualmente, ao direito da presidência de conduzir os trabalhos da Casa com firmeza e imparcialidade.
As Demandas da Oposição e a Obstrução
Os parlamentares de oposição têm mantido uma postura de obstrução nos plenários do Senado e da Câmara dos Deputados desde a terça-feira, pernoitando nas dependências do Congresso. Esta ação visa protestar contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Adicionalmente, o grupo exige a inclusão na pauta de votação de uma proposta de anistia geral e irrestrita para os condenados pela tentativa de golpe de Estado, especificamente aqueles envolvidos na trama golpista. Outra demanda significativa dos oposicionistas é o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A retomada dos trabalhos na Câmara foi marcada por desafios notáveis. Hugo Motta enfrentou dificuldades para assumir sua cadeira na Mesa Diretora, devido à resistência de alguns deputados. Entre os que se destacaram na obstrução inicial estavam Marcel van Hattem (Novo-RS) e Marcos Pollon (PL-MS). Mais cedo, o Colégio de Líderes da Câmara havia deliberado pela realização de uma sessão presencial às 20h30. No entanto, a ocupação do Plenário pelos deputados de oposição, iniciada no dia anterior, atrasou significativamente o início dos procedimentos, prolongando a interrupção das atividades legislativas.
Consequências e Medidas Disciplinares
Diante da persistência da obstrução, a Secretaria-Geral da Mesa emitiu uma nota alertando para as consequências de condutas que visem impedir ou dificultar as atividades legislativas. O regimento interno da Câmara dos Deputados prevê sanções para tais atos. Por exemplo, a Mesa Diretora pode apresentar uma representação formal ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Em casos de quebra de decoro, essa representação pode resultar na suspensão cautelar do mandato do deputado infrator por um período de até seis meses. Portanto, a ação dos parlamentares de oposição não está isenta de repercussões disciplinares sérias, visando a manutenção da ordem e do respeito às normas da Casa.
Incidentes e Repercussões
Um incidente notável durante o período de obstrução envolveu a presença da filha da deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC), um bebê de colo, no plenário. O deputado Reimont (PT-RJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, formalizou uma denúncia ao Conselho Tutelar sobre o caso. Segundo Reimont, a conduta de expor a criança a um “ambiente de instabilidade, risco físico e tensão institucional” suscitava graves preocupações quanto à sua segurança e bem-estar. Por outro lado, a deputada Júlia Zanatta, que foi encontrada sentada na cadeira do presidente Hugo Motta, justificou sua presença com a criança afirmando ter sido “chamada pelos colegas” e questionou se seriam retirados “à força”, demonstrando a tensão do momento.
A Situação no Senado Federal
Paralelamente aos acontecimentos na Câmara, o Senado Federal também foi afetado pela obstrução. Mais cedo, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), tomou uma decisão preventiva para garantir a continuidade dos trabalhos legislativos. Ele determinou que a sessão deliberativa da quinta-feira (7) fosse realizada em sistema remoto. Esta medida foi adotada especificamente para contornar a obstrução do plenário por parte de senadores da oposição, assegurando que a pauta legislativa não fosse paralisada. Assim, enquanto a Câmara lidava com a reabertura presencial, o Senado optou por uma abordagem tecnológica para manter sua funcionalidade, demonstrando a gravidade da crise institucional que se estendeu por ambas as casas do Congresso.