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Alckmin: Tarifas dos EUA ameaçam 36% das exportações; governo prepara plano.

Vice-presidente Alckmin alerta que tarifas dos EUA ameaçam 36% das exportações brasileiras, e governo prepara plano de mitigação.
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Foto: Cadu Gomes/VPR

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, alertou que uma parcela significativa das exportações brasileiras para os Estados Unidos, estimada em 35,9%, pode ser severamente impactada caso as medidas tarifárias anunciadas pelo governo americano se concretizem. O governo federal, por sua vez, já está com um plano de mitigação praticamente delineado para enfrentar essa potencial ameaça econômica.

Impacto das Medidas Tarifárias e Esforços de Mitigação

Em uma entrevista concedida ao programa Mais Você, da Rede Globo, na última quinta-feira (31), Alckmin destacou a seriedade da situação. Ele afirmou que o governo atuará incisivamente para minimizar os efeitos adversos sobre os setores produtivos mais prejudicados, com um foco especial na preservação dos postos de trabalho. Neste sentido, o vice-presidente enfatizou que as autoridades brasileiras estão comprometidas em defender os 35% das exportações ameaçadas, debruçando-se sobre estudos detalhados para proteger os empregos e os setores mais atingidos.

As preocupações surgiram após uma carta enviada pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, ao governo brasileiro em 9 de julho, onde anunciava a taxação de 50% sobre as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto. Entretanto, houve um abrandamento do tom por parte da administração norte-americana na quarta-feira (30). Desse modo, a aplicação das tarifas foi postergada para o dia 6 de agosto. Além disso, uma lista contendo cerca de 700 produtos de exceção foi apresentada, abrangendo itens que, se não estivessem disponíveis, poderiam gerar um impacto negativo na própria economia americana.

Entre os produtos que foram poupados da taxação, figuram itens como suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis, incluindo seus motores, peças e componentes. Outros bens importantes, como polpa de madeira, celulose, metais preciosos e produtos energéticos, também foram excluídos da lista tarifária. Por outro lado, itens cruciais como café, frutas frescas e carnes não foram contemplados pelas isenções, permanecendo sujeitos à taxação de 50%. Alckmin ilustrou a diferença de impacto, explicando que setores com forte dependência de exportações para os EUA sofrerão mais do que aqueles focados no mercado interno.

O Plano de Ação Governamental

Alckmin revelou que o governo já dispõe de um plano de ação “praticamente pronto”, focado primordialmente na preservação dos empregos e na manutenção da produção nacional. Ele esclareceu que o plano ainda se encontra sob análise, principalmente devido à recente divulgação de detalhes adicionais sobre as tarifas. O presidente Lula, ademais, terá a palavra final sobre as medidas. O vice-presidente assegurou que o plano envolverá suporte de natureza financeira, creditícia e tributária, garantindo que nenhum setor ou trabalhador será desamparado.

Em primeiro lugar, a estratégia governamental prevê uma intensa luta para reduzir o percentual de 35,9% das exportações afetadas pela tarifa de 50%. A negociação com os Estados Unidos, portanto, não é considerada um assunto encerrado. Em segundo lugar, o plano focará na busca ativa por alternativas de mercado para os produtos brasileiros. Finalmente, em terceiro lugar, haverá um apoio direcionado aos setores que mais necessitam, como os de pescado, mel e determinadas frutas. Alckmin mencionou a intenção de expandir a lista de produtos isentos, incluindo outras frutas e a carne bovina, citando a manga como um exemplo de item que pode ser lembrado nas discussões.

Busca por Novas Oportunidades de Mercado

Nesse sentido, o foco principal do governo é encontrar novos mercados para os produtos brasileiros, a fim de evitar qualquer prejuízo aos produtores e, consequentemente, impedir uma queda na produção por falta de demanda externa. O vice-presidente ressaltou que o Brasil, representando cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global, tem 98% do comércio mundial fora de suas fronteiras. Por conseguinte, é imperativo buscar oportunidades no cenário internacional, especialmente na área agrícola. Vale a pena mencionar que o país já abriu impressionantes 398 novos mercados nos últimos tempos, consolidando-se como um protagonista alimentar, energético e climático.

Além disso, após um período considerável de isolamento, o Mercosul firmou acordos estratégicos. Por exemplo, um acordo com Singapura foi concluído no ano passado, e outro pacto fundamental com a União Europeia deverá entrar em vigor ainda neste ano, abrangendo 27 das nações mais ricas do mundo. Ainda assim, acordos adicionais com Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein, que são países desenvolvidos fora da União Europeia, também estão em andamento. Esses acordos, segundo Alckmin, são cruciais para impulsionar o comércio exterior brasileiro de forma significativa.

A Questão da Soberania Nacional

Durante sua participação, Alckmin também fez questão de ressaltar a questão da soberania, um tema inegociável para o governo brasileiro. Ele defendeu que nenhum poder deve interferir em outro, enfatizando a importância da separação de poderes. Para ilustrar seu ponto, o vice-presidente mencionou que o ex-presidente Lula, mesmo após um período de prisão, jamais buscou subverter a democracia ou o Poder Judiciário.

Nesse contexto, Alckmin informou que Lula se reuniu com ministros da Suprema Corte, e um documento foi elaborado em resposta às tentativas de interferência externa. Este documento reafirma a separação dos poderes no Brasil, argumentando que tal intervenção, como a tentada pelos EUA por meio de tarifas relacionadas a questões internas, contraria os princípios da democracia e do estado de direito. Alckmin questionou retoricamente a situação hipotética de o Brasil aumentar tarifas sobre produtos americanos simplesmente por não concordar com uma decisão da Suprema Corte americana que envolvesse um ex-presidente daquele país. Finalmente, o vice-presidente destacou que o governo mantém um diálogo constante tanto com autoridades norte-americanas quanto com representantes das principais empresas de tecnologia.