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Tarifaço dos EUA deve impactar montadoras americanas, diz setor

O setor de autopeças brasileiro prevê que o tarifaço dos EUA contra o Brasil prejudicará mais as montadoras americanas, que dependem de peças nacionais. O impacto aqui será menor.
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Foto: CNI/José Paulo Lacerda/Direitos reservados

O setor brasileiro de autopeças projeta que a recente onda de tarifas imposta pelos Estados Unidos contra o Brasil pode, ironicamente, causar mais prejuízos às próprias montadoras americanas. A avaliação se baseia na significativa dependência dessas empresas por componentes fabricados no Brasil. Consequentemente, a expectativa é de um impacto menos severo sobre a indústria nacional de veículos.

Impacto Direto nas Montadoras dos EUA

A análise do comércio nacional de peças e acessórios automotivos indica que o alvo principal do dano causado pelas sobretaxas americanas será, na verdade, as fábricas de automóveis localizadas nos Estados Unidos. Segundo Ranieri Leitão, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Peças e Acessórios para Veículos (Sincopeças Brasil), o processo de montagem de automóveis no Brasil deve experimentar poucas alterações significativas em função da medida tarifária. Ademais, Leitão enfatizou que a repercussão negativa será maior para as montadoras sediadas no mercado norte-americano, que habitualmente utilizam fornecedores brasileiros em sua cadeia produtiva. Por outro lado, o cenário interno de produção de veículos no Brasil não antevê grandes mudanças.

Leitão também esclareceu que o segmento brasileiro de autopeças atua predominantemente no mercado doméstico. Portanto, ele não espera um efeito direto e contundente do “tarifaço” sobre a operação das empresas nacionais. Entretanto, o líder sindical manifestou uma preocupação mais ampla, destacando que qualquer iniciativa de taxação excessiva tende a ser prejudicial para o ambiente de negócios em geral, independentemente do setor ou da localização geográfica. Essa postura ressalta a visão de que medidas protecionistas podem gerar distorções econômicas.

Perspectiva das Fabricantes Nacionais

Em complemento a essa análise, o Sindipeças, que representa os fabricantes de autopeças no país, emitiu uma nota salientando a necessidade de aguardar a publicação oficial da legislação estadunidense. Essa medida é crucial para determinar com precisão o alcance e a abrangência da sobretaxa sobre o setor. É importante notar que as fabricantes brasileiras produzem peças altamente específicas, muitas vezes sob medida para veículos destinados ao mercado norte-americano. Consequentemente, o redirecionamento desses componentes para outros mercados ou a adaptação da produção torna-se uma tarefa complexa e, em alguns casos, inviável.

Balança Comercial e Dados Históricos

Historicamente, a balança comercial de autopeças entre Brasil e Estados Unidos tem sido desfavorável para o Brasil, registrando um déficit contínuo desde 2009. Essa tendência reflete um padrão de importação de peças americanas maior do que as exportações brasileiras para aquele país. Mais recentemente, em 2024, os dados reforçam essa disparidade: o Brasil exportou o equivalente a US$ 2,2 bilhões em autopeças para os Estados Unidos, enquanto importou US$ 1,3 bilhão. Essa diferença evidencia a dependência mútua, porém com um fluxo financeiro que pende para o lado americano na compra de produtos manufaturados.

Em suma, a previsão do setor de autopeças aponta para um impacto mais concentrado nas montadoras americanas devido à sua dependência de insumos brasileiros. Enquanto isso, o mercado interno brasileiro e suas operações de montagem devem enfrentar menos turbulência. Todavia, a comunidade do setor permanece atenta à formalização das medidas tarifárias, pois a especificidade das peças exportadas cria um desafio particular para a adaptação da indústria nacional. Em última análise, a imposição de tarifas elevadas é vista como um obstáculo generalizado para o desenvolvimento do comércio internacional.