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EUA Perdem Espaço: Exportações Brasileiras Caem 50% Desde 2001, Aponta FGV

EUA perdem força no mercado brasileiro. Em 23 anos, participação americana nas exportações do Brasil despenca 50%, enquanto a China se consolida como principal parceiro comercial.
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Foto: Divulgação/Porto de Santos

Os Estados Unidos têm perdido gradualmente sua influência no mercado brasileiro ao longo dos anos. Um estudo recente da Fundação Getulio Vargas (FGV) revelou que, em um período de 23 anos, a participação americana nas exportações do Brasil despencou cerca de 50%, enquanto a China se consolidou como principal parceiro comercial do país.

De acordo com o Indicador de Comércio Exterior (Icomex), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, a fatia dos Estados Unidos nas exportações brasileiras caiu de 24,4% em 2001 para 12,2% em 2024. Em contrapartida, a China viu sua participação aumentar exponencialmente, saltando de 3,3% para 28% no mesmo período. A União Europeia e a América do Sul também perderam espaço, embora em menor proporção.

Ascensão da China e Declínio dos EUA

O estudo da FGV demonstra uma mudança significativa no cenário do comércio exterior brasileiro. Enquanto a China expandiu sua presença de forma notável, outros parceiros comerciais tradicionais, como os Estados Unidos, a União Europeia e a América do Sul, perderam terreno. A participação da União Europeia nas exportações brasileiras, por exemplo, diminuiu 44%, e a da América do Sul, 31%.

Os dados do Icomex, elaborados com base em informações da Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), revelam que, em 2024, a China detém 28% das exportações brasileiras, seguida pela União Europeia (14,3%), América do Sul (12,2%) e Estados Unidos (12%).

Impacto nas Importações Brasileiras

Além da redução na participação das exportações, os Estados Unidos também perderam relevância nas importações brasileiras. Em 2001, 22,7% das importações do Brasil tinham origem nos Estados Unidos. Já em 2024, esse percentual caiu para 15,5%, representando uma retração de 32%. Entretanto, a China ampliou sua participação nas importações brasileiras, passando de 2,3% para 24,2% no mesmo período. A União Europeia e a América do Sul também registraram quedas em suas participações.

No cenário das importações, a China lidera com 28%, seguida pela União Europeia (18%), Estados Unidos (15,5%) e América do Sul (10,2%).

Diversificação das Exportações Brasileiras para os EUA

Apesar da perda de espaço no comércio total, as exportações brasileiras para os Estados Unidos apresentam uma diversificação maior em comparação com as exportações para a China. Enquanto apenas três produtos (petróleo, soja e minério de ferro) representam 96% das exportações para a China, os dez principais produtos exportados para os Estados Unidos respondem por 57% do total.

Principais Produtos Exportados para os EUA

Entre os principais produtos da pauta de exportação para os Estados Unidos, destacam-se:

  • Óleos brutos de petróleo: 14%
  • Produtos semiacabados de ferro ou aço: 8,8%
  • Aeronaves e equipamentos: 6,7%
  • Café torrado: 4,7%
  • Ferro-gusa, spiegel, ferro-esponja: 4,4%
  • Óleos combustíveis de petróleo: 4,3%
  • Celulose: 4,1%
  • Demais produtos da Indústria de Transformação: 3,8%
  • Instalações e equipamentos de engenharia civil: 3,6%
  • Sucos de frutas ou vegetais: 3%

O estudo da FGV aponta que setores como siderurgia, aeronáutica, sucos vegetais e o de escavadeiras seriam os mais afetados pelas recentes medidas americanas, visto que dependem consideravelmente da economia dos Estados Unidos.

Reação do Governo Brasileiro e Perspectivas Futuras

Diante desse cenário, o governo brasileiro tem buscado alternativas para mitigar os impactos das tarifas americanas. Além de negociações diplomáticas, o Brasil sinaliza a possibilidade de adotar a Lei da Reciprocidade Econômica, que aumentaria os impostos sobre as importações de produtos dos Estados Unidos. A pesquisadora associada do Ibre/FGV, Lia Valls, sugere que alguns produtos brasileiros, como carnes e sucos, poderiam buscar novos mercados, embora reconheça a dificuldade de redirecionar as exportações em curto prazo.

Ademais, o estudo da FGV destaca que o presidente americano, Donald Trump, já demonstrou hesitação em relação a medidas tarifárias no passado, o que abre a possibilidade de uma revisão da decisão. Além disso, a pressão de empresas americanas, que também seriam prejudicadas pelas tarifas, pode influenciar o governo dos Estados Unidos a reconsiderar a taxação.