O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentou, nesta quinta-feira (26), um abrangente documento que detalha as ações implementadas pelos países membros do Brics desde a sua criação em 2009. O catálogo, que inclui mais de 180 iniciativas de cooperação, visa fortalecer a governança do bloco e servir como um guia para os novos países que se juntarão ao grupo. A apresentação ocorreu durante o 17º Fórum Acadêmico do Brics (Fabrics), realizado em Brasília.
Ipea Lança Documento Detalhado das Ações do Brics para Orientar Novos Integrantes
A iniciativa do Ipea representa um marco importante para a consolidação da cooperação entre os membros do Brics. Além disso, o documento surge em um momento crucial, com a recente expansão do bloco, que adicionou seis novos países à sua composição. O catálogo detalha os mecanismos de cooperação estabelecidos ao longo dos anos, proporcionando uma base sólida para a integração dos novos membros e o fortalecimento da atuação conjunta em diversas áreas.
Detalhes do Documento e sua Apresentação no Fórum Acadêmico
Walter Desiderá, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, explicou que o portfólio documenta as atividades e resultados propostos pelo Brics, servindo como referência para a adesão de novos participantes. “Ele também apresenta um histórico sobre quais mecanismos tiveram resultados e engajamento dos países participantes”, acrescentou Desiderá. Luciana Santos Servo, presidenta do Ipea, ressaltou o caráter dinâmico do documento, que continuará em desenvolvimento, consolidando-se como uma base de dados dos mecanismos propostos e implementados pelo Brics.
Fórum Acadêmico do Brics Discute Desafios Globais e Expansão do Bloco
O 17º Fórum Acadêmico do Brics (Fabrics) promoveu debates sobre temas cruciais para o desenvolvimento global, com foco nas prioridades da presidência brasileira do bloco. Representantes de think tanks de nove países participaram das discussões, que foram organizadas em torno de seis eixos principais: saúde global, inteligência artificial, mudanças climáticas, comércio e finanças, reforma da governança internacional e desenvolvimento institucional. Ademais, a expansão recente do Brics e os desafios para ampliar os mecanismos de cooperação também foram temas centrais.
Mudanças Climáticas e a Necessidade de Justiça Climática
As mudanças climáticas ganharam destaque nas discussões, especialmente seus impactos desproporcionais nos países em desenvolvimento, como os da África Subsaariana. A necessidade de justiça climática e a redução das desigualdades regionais foram amplamente debatidas. Além disso, os participantes formularam recomendações conjuntas para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém em novembro.
Mulugeta Getu, pesquisador-líder e coordenador do Policy Studies Institute da Etiópia, enfatizou a importância de investimentos em projetos sustentáveis financiados pelo New Development Bank (NDB). “Temos um desafio enorme de investimento, e uma das soluções para isso pode ser a implementação de projetos sustentáveis financiados pelo New Development Bank [NDB], além do desenvolvimento de plataformas de compartilhamento de informações e tecnologias entre países”, afirmou Getu.
Arquitetura de Segurança e a Reforma do Sistema Multilateral
Os conflitos recentes no Oriente Médio trouxeram à tona a necessidade de reformar a arquitetura de segurança global. Nesse sentido, houve um consenso sobre a importância de fortalecer o sistema multilateral, com ênfase na reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e no fortalecimento do Sul Global. Rodrigo Morais, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, destacou que a manutenção da paz, o pacto de não agressão entre os membros e o estabelecimento de mecanismos de confiança são elementos centrais da visão do Brics.
Por outro lado, Nirmala Gopal, professora da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, defendeu que o posicionamento do Brics precisa sair do campo retórico e político e se traduzir em atitudes concretas que fortaleçam as instituições multilaterais. Em conclusão, o Fórum Acadêmico do Brics ressaltou a importância da cooperação estratégica para o desenvolvimento institucional do bloco, com a criação de modelos mais claros, estruturas de monitoramento de resultados e um escritório permanente do grupo.