A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic para 15% ao ano, anunciada em junho de 2025, gerou forte onda de críticas por parte de entidades empresariais e sindicais. A medida, segundo os críticos, terá impactos negativos significativos na produção, nos investimentos e no mercado de trabalho.
Indignação no Setor Produtivo: Juros Altos como Obstáculo ao Crescimento
Entidades representativas da indústria, do comércio e do setor financeiro expressaram sua preocupação com os efeitos devastadores da alta dos juros básicos da economia. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão é “injustificável”, nas palavras de seu presidente, Ricardo Alban. Alban argumenta que os juros em patamares tão elevados, o maior desde 2006, estão sufocando a economia e prejudicando a capacidade produtiva do país, que já enfrenta um cenário econômico complexo.
Além disso, Alban questiona a coerência da política econômica atual, destacando a contradição entre o Banco Central se manifestar contra o aumento do IOF e, simultaneamente, elevar a taxa de juros. “Não lidávamos com um patamar tão alto da Selic desde 2006. A irracionalidade dos juros e da carga tributária já está sufocando a capacidade dos setores produtivos”, afirma Alban, ressaltando a dificuldade das empresas em obter crédito com custos tão elevados.
Compartilhando da mesma preocupação, a Associação Paulista de Supermercados (Apas) defende que o Banco Central poderia ter optado por uma política monetária mais branda. Para Felipe Queiroz, economista-chefe da Apas, existia espaço para a estabilidade, ou mesmo para uma redução da taxa. “Não há justificativas para uma taxa de juros neste patamar”, afirma Queiroz em comunicado oficial. Ele argumenta que o cenário atual exige uma política macroeconômica voltada para o desenvolvimento doméstico, com incentivo à produção e ao crescimento. Queiroz ainda acrescenta que, apesar dos juros altos, a previsão de crescimento do PIB em 2.2% demonstra que uma taxa de juros mais baixa poderia ter impulsionado um crescimento econômico ainda maior.
Reações no Mercado e Análise da Inflação
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) também se manifestou, afirmando que a decisão do Copom surpreendeu as expectativas do mercado. Entretanto, a ACSP reconhece que o núcleo da inflação (que exclui os preços mais voláteis) permanece acima do teto da meta anual de 4,5% em 12 meses. De acordo com Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da ACSP, “Apesar da desaceleração gradual da atividade econômica interna e da valorização do Real, que tendem a diminuir a pressão sobre os preços, a inflação subjacente se mantém muito acima da meta anual, num contexto de expansão fiscal e expectativas inflacionárias ainda desancoradas, justificando uma política monetária mais contracionista”.
Centrais Sindicais Repudiam Aumento da Selic
Por outro lado, as centrais sindicais também manifestaram sua forte oposição à decisão do Banco Central. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, critica a política monetária por dificultar a vida das famílias e transferir recursos dos consumidores, empresas e Estado para o setor financeiro. Segundo Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, os juros altos desestimulam investimentos e consumo, impactando diretamente no mercado de trabalho. Moreira afirma que o Brasil criaria muito mais empregos de qualidade com salários melhores se não fosse essa política monetária.
Em consonância com a CUT, a Força Sindical classificou os juros altos como um “veneno” para a produção e o comércio. Em nota oficial, o presidente da entidade, Miguel Torres, critica a política de juros altos do Copom, afirmando que ela incentiva a especulação e beneficia o setor bancário em detrimento da indústria e do comércio. Torres prevê que a manutenção dessa política irá aprofundar o desemprego e a pobreza no país.
Em conclusão, a decisão do Copom de elevar a Selic para 15% gerou um amplo descontentamento entre diversos setores da economia brasileira, que temem graves consequências para a produção, o investimento, o emprego e o bem-estar da população. A divergência de opiniões sobre a melhor política econômica a ser adotada no atual contexto inflacionário demonstra a complexidade dos desafios que o Brasil enfrenta.