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Livro póstumo de Dom Phillips sobre a Amazônia é lançado em SP

Livro póstumo de Dom Phillips sobre a Amazônia é lançado em SP. Três anos após o assassinato do jornalista e do indigenista Bruno Pereira, a viúva de Dom, Alessandra Sampaio, lança na Feira do Livro de SP a obra "Como salvar a Amazônia: uma busca mortal por respostas", finalizada por amigos.
Livro póstumo Dom Phillips Amazônia
Foto: Erica Fujito/Divulgação

Três anos após o brutal assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira na Amazônia, um livro póstumo de Dom, intitulado “Como salvar a Amazônia: uma busca mortal por respostas”, foi lançado na Feira do Livro de São Paulo. A obra, finalizada por amigos próximos com a supervisão de Alessandra Sampaio, viúva de Dom, representa o legado de um trabalho dedicado à preservação da floresta e dos povos indígenas que a habitam.

Lançamento e o Legado de Dom Phillips

O lançamento ocorreu na Praça Charles Miller, no Pacaembu, durante um evento que contou com a participação de Alessandra Sampaio, Tom Phillips (parente de Dom) e Otavio Cury. A iniciativa marca não apenas a publicação de um trabalho inacabado, mas também a continuação da luta por justiça e pela proteção da Amazônia, causa à qual Dom dedicou seus últimos anos de vida. Além disso, o evento serviu como um importante espaço para homenagear o jornalista e o indigenista.

Alessandra Sampaio, além de promover o livro, também dedica-se à fundação do Instituto Dom Phillips. Essa iniciativa visa garantir formação a jovens indígenas na área de comunicação, equipando-os com as ferramentas necessárias para combater a desinformação e fortalecer suas vozes na luta pela preservação de seus territórios. Em outras palavras, o Instituto pretende dar continuidade ao trabalho de Dom, capacitando a próxima geração de comunicadores indígenas.

Segundo Alessandra, Dom Phillips era um jornalista profundamente conectado à natureza amazônica. “O Dom era e sempre foi essa pessoa muito conectada à natureza”, relatou ela à Agência Brasil, “Essa conexão muito profunda, de fazer caminhadas, alguma atividade. Era bem importante para ele isso. E não era o tipo de jornalista que está na região só para coletar informação para algum trabalho. Ele se envolvia com as pessoas e suas histórias”.

A Jornada de Dom na Amazônia e o Nascimento do Livro

A paixão de Dom pela Amazônia começou com uma viagem turística em 2007. A experiência foi tão marcante que o levou a querer morar no Brasil e a se envolver profundamente com a região. “Não tinha como não se envolver”, explicou Alessandra. “Primeiro, porque a Amazônia é uma causa apaixonante. Ele voltava muito impactado. Ele dizia: ‘se as pessoas conhecessem a Amazônia, os povos da Amazônia, naturalmente iam se engajar para proteger, porque não tem como você ficar alheio à grandiosidade da floresta e à sabedoria dos povos’”.

Inicialmente, sua carreira jornalística focou na cobertura de música eletrônica para a revista Mixmag. Entretanto, sua trajetória tomou um rumo diferente ao se dedicar à denúncia dos impactos socioambientais da mineração, como exemplificado pela sua reportagem sobre a Mina de Carajás para o Washington Post, jornal com o qual colaborou a partir de 2015. No jornal, ele teve uma editora rigorosa que, segundo Alessandra, se tornou uma verdadeira escola de jornalismo para ele, aprimorando seu trabalho através de sucessivas revisões e edições.

O Título Provocativo e a Colaboração com Bruno Pereira

A ideia para o livro “Como salvar a Amazônia: uma busca mortal por respostas” surgiu durante sua imersão na Amazônia. O título, escolhido pelo próprio Dom, gerou reações diversas. Como descreveu Alessandra, um líder indígena reagiu ao nome com ceticismo, questionando a prepotência de um estrangeiro em propor soluções para a Amazônia. Porém, para Dom, o título era uma provocação, uma forma de abrir um diálogo e gerar reflexões sobre a complexa realidade da região.

“O Dom acreditava tanto no título desse livro que ele registrou. Tinha medo de alguém roubar o nome”, contou Alessandra. “Falou para o Beto o nome, e ele disse: ‘poxa, gringo, você tá de brincadeira? Você é estrangeiro e vem falar como é salvar a Amazônia? Que prepotência!’ Aí, o Dom disse: ‘não, você não está entendendo. Esse título é para provocar isso que você está sentindo. É também uma afirmação, não só uma pergunta’”.

A colaboração com Bruno Pereira foi fundamental para a pesquisa de Dom. Inicialmente, Bruno era cético em relação à participação de Dom em suas atividades no Vale do Javari, porém, após uma recomendação de um líder ashaninka, Bruno concordou em ajudar o jornalista.

Em resumo, o livro “Como salvar a Amazônia: uma busca mortal por respostas” não é apenas um trabalho jornalístico, mas um testemunho do compromisso de Dom Phillips com a Amazônia e seus povos, um legado que continua a inspirar a luta pela preservação da floresta e pela justiça social.