O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou, nesta quarta-feira (4), o julgamento sobre a responsabilidade das redes sociais por conteúdo ilegal publicado em suas plataformas. A discussão, interrompida em dezembro do ano passado a pedido do ministro André Mendonça, que solicitou vista dos processos, promete acirrar o debate sobre a liberdade de expressão versus a necessidade de moderação de conteúdo nocivo na internet.
Debate Acesa sobre Responsabilidade das Redes Sociais
O ministro Mendonça deu início à leitura da segunda parte de seu voto, sinalizando sua posição a favor da manutenção do artigo 19 do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014). Este artigo estipula que as plataformas digitais só podem ser responsabilizadas por conteúdo ilegal após ordem judicial, priorizando a liberdade de expressão. Entretanto, Mendonça reconheceu exceções, afirmando que “quando um discurso tiver a manifesta potencialidade de causar perigo claro a terceiros, descortina-se a possibilidade de responsabilização do emissor”. Em outras palavras, a liberdade de expressão, mesmo que abrangendo opiniões ásperas ou imorais, não se estende a situações que representem um risco iminente para outras pessoas.
Sua argumentação enfatizou a importância de proteger a liberdade de expressão, permitindo até mesmo discursos “ásperos, críticos, antiéticos e imorais”, desde que não representem uma ameaça direta e imediata. A posição do ministro, portanto, busca um equilíbrio delicado entre a proteção da liberdade de expressão e a prevenção de danos causados por conteúdo ilegal.
Divergências entre os Ministros do STF
O julgamento no STF apresenta votos divergentes sobre o alcance da responsabilidade das plataformas. Antes da retomada da sessão, o presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, já havia se manifestado. Ele defendeu a remoção imediata de conteúdo relacionado a pornografia infantil, suicídio, tráfico de pessoas, terrorismo e ataques à democracia, após notificação dos envolvidos. Porém, para Barroso, a remoção de conteúdo ofensivo ou que constitua crime contra a honra só deve ocorrer mediante decisão judicial, seguindo a legislação vigente.
Além disso, os ministros Dias Toffoli e Luiz Fux também votaram pela responsabilização das plataformas, contudo, em uma extensão maior do que a proposta por Barroso. Eles defenderam a retirada de conteúdo ilegal, como ataques à democracia, incitação à violência e racismo, após notificação extrajudicial. Em resumo, Toffoli e Fux defendem uma atuação mais proativa das plataformas na moderação de conteúdo, mesmo sem ordem judicial prévia, em comparação com a posição de Barroso.
A Importância da Decisão para o Futuro da Internet no Brasil
A Corte analisa a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que define os direitos e deveres do uso da internet no Brasil. A decisão do STF terá um impacto significativo no funcionamento das redes sociais no país e definirá os limites da responsabilidade das plataformas na moderação de conteúdo. Ainda faltam os votos de sete ministros, o que indica que o debate está longe de ser concluído e que novas perspectivas podem surgir durante o processo.
Posteriormente à conclusão do julgamento, as implicações da decisão serão analisadas por especialistas em direito digital e ativistas de direitos humanos. Afinal, a balança entre liberdade de expressão e responsabilidade na internet é um tema complexo, que exige uma análise cuidadosa e ponderada, considerando os diferentes interesses em jogo. O resultado deste julgamento, portanto, afetará profundamente o cenário digital brasileiro nos próximos anos.