As plataformas administradas pela Meta – Facebook, Instagram e WhatsApp – têm sido amplamente utilizadas por golpistas para disseminação de anúncios fraudulentos e enganar usuários. A informação faz parte de um estudo realizado pelo Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgado na última quarta-feira (5).
O levantamento analisou a presença de publicidade enganosa entre os dias 10 e 21 de janeiro e identificou 1.770 anúncios maliciosos veiculados por 151 anunciantes, além de 87 sites fraudulentos que redirecionavam os usuários para golpes.
Golpistas exploram desinformação sobre Pix e benefÃcios sociais
O estudo revelou que a desinformação sobre polÃticas financeiras tem sido usada como ferramenta para atrair vÃtimas. Um exemplo recente foi a revogação da Instrução Normativa 2.219/2024, da Receita Federal, que exigia das operadoras de cartões de crédito o compartilhamento de informações financeiras de contribuintes.
A falsa informação de que o Pix seria taxado gerou grande preocupação entre os brasileiros. Aproveitando-se da confusão, criminosos impulsionaram anúncios fraudulentos prometendo isenção de taxas, liberação de valores retidos e acesso a benefÃcios inexistentes.
Entre os golpes mais comuns, foram encontrados anúncios que simulavam páginas do governo federal e de bancos. Cerca de 40,5% dos anúncios enganosos usavam identidade visual semelhante à de órgãos públicos, criando uma falsa sensação de credibilidade.
Ferramentas da Meta impulsionam golpes digitais
Os golpistas utilizam ferramentas avançadas de segmentação de anúncios da Meta para atingir públicos especÃficos com base em dados demográficos, localização e interesses. Isso amplia o alcance dos golpes e torna as fraudes ainda mais convincentes.
O NetLab destaca que as vÃtimas mais afetadas são aquelas em situação de vulnerabilidade econômica, que buscam informações sobre benefÃcios sociais e facilidades financeiras.
“O fato de essas páginas obterem permissão para veicular anúncios em nome do governo evidencia falhas nos processos de verificação da Meta”, aponta o estudo.
A pesquisa também revelou que 70,3% dos anúncios fraudulentos utilizavam inteligência artificial, incluindo deepfakes – vÃdeos manipulados para simular falas de figuras públicas.
Personalidades foram alvo de manipulações digitais
O estudo do NetLab encontrou 561 anúncios fraudulentos que usaram imagens e vÃdeos manipulados do deputado federal Nikolas Ferreira (PL). Em alguns casos, os conteúdos falsificados mostravam o parlamentar anunciando benefÃcios inexistentes.
Além dele, outras figuras públicas foram exploradas em anúncios enganosos, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o jornalista William Bonner.
Meta responde às acusações e promete melhorias
Procurada pela Agência Brasil, a Meta afirmou que não permite anúncios enganosos ou fraudulentos em suas plataformas e que está constantemente aprimorando suas ferramentas de segurança.
A empresa destacou que os usuários podem denunciar conteúdos suspeitos diretamente pelos aplicativos do Facebook, Instagram e WhatsApp.
Entretanto, pesquisadores do NetLab alertam que a falta de moderação eficaz e transparência na veiculação de anúncios favorece a prática de crimes digitais.
Golpes financeiros no Brasil causam prejuÃzos bilionários
Estudos apontam que fraudes digitais, incluindo golpes via Pix e boletos bancários, geram prejuÃzos de R$ 25,5 bilhões por ano aos consumidores brasileiros.
Uma pesquisa da Silverguard, empresa de segurança digital, revelou que 79,3% dos golpes financeiros relatados no Brasil começaram em plataformas da Meta, sendo:
📌 39% no WhatsApp
📌 22,6% no Instagram
📌 17,7% no Facebook
A empresa também identificou golpes iniciados no Telegram (7,3%), Google (5%), TikTok e e-mails falsos.
“A circulação massiva de anúncios fraudulentos reduz a credibilidade das instituições públicas e prejudica a identificação de conteúdos autênticos”, afirma o estudo do NetLab.
Preocupações com mudanças na moderação de conteúdo
Recentemente, a Meta anunciou mudanças em suas polÃticas de moderação de conteúdo, incluindo o fim do programa de checagem de fatos no Facebook e Instagram.
Pesquisadores temem que isso facilite ainda mais a disseminação de golpes e aumente os desafios no combate à desinformação digital.
O NetLab enfatiza que não está claro se as novas regras impactarão o controle de anúncios fraudulentos e cobra mais transparência da empresa para evitar que usuários continuem sendo alvo de golpes online.