Presença de metais revela impacto contínuo em Brumadinho
Um estudo conduzido pela Fiocruz Minas e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou a presença de metais como arsênio, chumbo e mercúrio na urina de crianças e adultos de Brumadinho (MG). A pesquisa, que avalia a saúde e as condições de vida da população após o rompimento da barragem da Vale em 2019, aponta que 57% das crianças analisadas em 2023 apresentaram níveis de arsênio acima do recomendado, contra 42% em 2021.
O arsênio, o metal mais detectado, também apareceu em adultos e adolescentes. Entre os adolescentes, 9% apresentaram níveis elevados, mas em algumas regiões o percentual chegou a 20,4%. Esses dados destacam que, mesmo seis anos após o desastre, a exposição aos metais permanece disseminada.
Comparação entre 2021 e 2023
A pesquisa revelou uma redução em alguns metais, como manganês, mas outros, como arsênio e chumbo, apresentaram pouca variação entre os dois anos. Chumbo e mercúrio foram detectados em 100% das amostras de 2023, mas apenas 6,8% apresentaram níveis de chumbo acima do limite de referência.
Os pesquisadores destacam que os resultados indicam exposição aos metais, mas não necessariamente intoxicação, que exige avaliação clínica mais aprofundada. Para os participantes com níveis elevados, a Fiocruz recomenda acompanhamento médico detalhado e a criação de uma rede de saúde que atenda tanto os casos já detectados quanto novas demandas da população.
Condições de saúde e preocupações crescentes
Além da presença de metais, o estudo analisou doenças crônicas e sintomas relatados pelos moradores. Entre os adultos, a prevalência de hipertensão aumentou de 27,9% em 2021 para 30% em 2023. Já asma e bronquite asmática foram as condições mais relatadas por adolescentes, subindo de 12,7% para 14%.
Doenças respiratórias também chamaram atenção. Em 2021, 31,8% dos adultos relataram irritação nasal; esse número subiu para 40,3% em 2023. Bronquite crônica e doenças pulmonares obstrutivas tiveram aumento significativo, reforçando a necessidade de atenção às condições ambientais, como poeira gerada pela mineração ativa.
Impactos na saúde mental e atenção infantil
O estudo também destacou os efeitos na saúde mental. Entre os adultos, o diagnóstico de depressão aumentou de 21,3% para 22,3% entre 2021 e 2023. Dificuldades para dormir também cresceram, passando de 26,7% para 35,1%.
Por outro lado, houve avanços entre as crianças. O número de crianças com risco de atraso no desenvolvimento neuromotor caiu de 42,5% em 2021 para 28,3% em 2023. Melhorias no índice de massa corporal (IMC) também foram observadas, com a taxa de obesidade infantil reduzida de 11% para 4,6%.
Respostas e próximos passos
A Fiocruz reforçou a necessidade de articulação entre saúde e educação para garantir o desenvolvimento infantil e prevenir problemas relacionados à exposição contínua aos metais. Para Sérgio Peixoto, coordenador da pesquisa, é fundamental que os serviços de saúde locais priorizem estratégias intersetoriais.
A mineradora Vale, em nota, afirmou que os resultados de sedimentos e solos da Bacia do Paraopeba não indicaram concentração acima do limite legal. A empresa destacou ainda ações como o Programa Ciclo Saúde, que fortalece a atenção básica em Brumadinho e outros municípios afetados.
O estudo da Fiocruz será essencial para monitorar a saúde da população e orientar políticas públicas em uma região ainda marcada pelas consequências do desastre de 2019.