Às vésperas do Dia do Rio Tietê, celebrado no próximo domingo (22), a Fundação SOS Mata Atlântica divulgou os mais recentes resultados do programa de monitoramento “Observando os Rios”. O estudo revelou que a mancha de poluição do rio Tietê cresceu 29% em 2024, abrangendo agora 207 quilômetros (km) de águas impróprias para uso, contra 160 km registrados no ano anterior. Esse é o quarto ano consecutivo de aumento na extensão da área poluída.
Crescimento da mancha de poluição
De acordo com o relatório, 131 km do rio apresentam qualidade ruim, enquanto 76 km estão em condições péssimas. Essa mancha de poluição, caracterizada pela ausência de oxigênio e concentração de poluentes, é um indicador preocupante sobre o estado do rio, especialmente nos trechos mais próximos à capital paulista. “A mancha mostra a deterioração do rio, com água escura, mau cheiro e ausência de vida aquática”, explicou Cesar Pegoraro, educador e mobilizador da causa Água Limpa da SOS Mata Atlântica.
A principal causa para o crescimento da mancha de poluição, segundo Pegoraro, está na falta de tratamento de esgoto e no aumento da poluição difusa, como o descarte de resíduos sólidos. Ele também destacou a importância de políticas públicas mais robustas e do engajamento da população para reverter esse cenário.
Emergências climáticas e saneamento básico
Outro fator agravante para o aumento da poluição é o impacto das emergências climáticas. O coordenador da Causa Água Limpa, Gustavo Veronesi, destacou que a falta de chuvas na região metropolitana de São Paulo tem contribuído para o problema. “O esgoto que ainda é despejado no rio encontra menos água para diluí-lo devido ao período de seca”, explicou.
Além das questões climáticas, a falta de saneamento básico em diversas regiões ao longo do Tietê segue sendo um desafio. “Muitas cidades ainda não têm acesso a serviços adequados de tratamento e coleta de esgoto, o que agrava a poluição”, acrescentou Veronesi.
Histórico do Rio Tietê
Com 1.136 quilômetros de extensão, o rio Tietê é o maior rio do estado de São Paulo, cortando 62 municípios de leste a oeste. Desde 1992, a data em celebração ao rio, estabelecida durante a ECO-92, tem servido como um lembrete dos esforços contínuos para sua despoluição. Naquele ano, um abaixo-assinado com mais de 1,2 milhão de assinaturas pressionou o governo de São Paulo a iniciar o Projeto Tietê, gerido pela Sabesp, para recuperar o rio.
No entanto, desde o início da pandemia de Covid-19, a mancha de poluição voltou a crescer. Entre 2021 e 2024, a área poluída aumentou 143,5%, passando de 85 km para os atuais 207 km.
Programas de revitalização e esperança no futuro
Apesar do cenário preocupante, há avanços e medidas em andamento para reverter a situação. Em 2023, o governo de São Paulo lançou o Programa IntegraTietê, com um investimento previsto de R$ 23,5 bilhões até 2029, destinado à expansão do saneamento básico, desassoreamento e recuperação da fauna e flora do rio. O programa visa melhorar a qualidade da água e revitalizar o ecossistema do Tietê, além de fomentar o uso do rio para lazer, turismo e agricultura.
Além dos projetos governamentais, Veronesi defende o uso de soluções baseadas na natureza, como a instalação de biodigestores e jardins filtrantes em áreas rurais, que podem contribuir para a despoluição. Ele reforça que a recuperação do rio depende de um esforço coletivo. “A despoluição do Tietê é possível, mas exige comprometimento de todos, desde o poder público até cidadãos e empresários.”
Embora o processo de recuperação seja lento, a esperança é que o rio Tietê volte a ser um espaço limpo e vibrante para a população de São Paulo.