Edição Brasília

Sound of Freedom é um filme básico envolto em polêmicas – Crítica do Chippu

Drama religioso faz mais barulho pelas polêmicas extra tela do que pelos feitos da história
Jim Caviezel em Sound of Freedom (Angel Studios)

Vamos começar pelas polêmicas. O protagonista (Jim Caviezel) já apoiou o QAnon, grupo extremista que tentou tomar o Capitólio nos EUA e espalha teorias da conspiração pelo mundo (como uma que Tom Hanks e Oprah fazem parte de uma seita que bebe sangue de crianças que são traficadas); os produtores acusam veículos dos EUA de boicotar o filme por “falar de problemas que o país não quer abordar”; a distribuidora, conhecida pelos filmes cristãos e conservadores, fez campanha para pessoas comprarem ingressos para outras (veículos dizem que as salas estão vazias, mas a arrecadação só sobe); parte do público fã do filme diz que as franquias de cinemas também estão boicotando o filme (coisa já desmentida pelas próprias cadeias, que estão exibindo o longa).

Isso é o “material” mais forte de Sound of Freedom. O marketing acerca de temas que muitas vezes não têm relação alguma com o roteiro em si, a não ser pelo mote “tráfico sexual”. Apesar de falar de um tema forte como esse, o longa não aborda diretamente uma teoria da conspiração, nem nada próximo disso, passa longe até de falar de política diretamente — ainda que a história seja claramente voltada para o conservadorismo religioso que vê a mulher primariamente como dona de casa e o homem como provedor impecável, incorruptível, silencioso, forte, másculo e, acima de tudo, devoto ao chamado de Deus. Neste aspecto, é louvável que o filme não esconda nunca suas pretensões, não tente se esconder por trás de falsas bandeiras, e deixa claro a cada imagem qual é a ideia que o inspirou.

O filme é uma história de investigação sobre o sequestro de duas crianças em Honduras. Entra em ação Tim Ballard, personagem de Caviezel, que começa a desmembrar um grande esquema de tráfico entre EUA e países latinos. A direção de Alejandro Monteverde, apesar de transparente e honesta em suas pretensões, é afetada e novelesca, com altas apostas em trilha sonora de cânticos dramáticos e closes que enaltecem demais as atuações caricatas de Caviezel e cia.

É uma direção de mão pesadíssima, que apesar de envolver bem o espectador nos agonizantes primeiros momentos de sofrimento das crianças, esvazia a história e o envolvimento com o exagero do dramalhão e a perfeição surreal de um personagem montado em um ambiente realista.

Os tropeços e acertos na execução são mais do que comuns, o que faz Sound of Freedom um filme… normal. Não fosse a polêmica em volta dele, e o aspecto de ser direcionado para uma audiência religiosa (a distribuidora é a mesma de The Chosen e o filme fala sobre constantemente Deus), ele dificilmente seria lembrado como um projeto importante ou uma história edificante como parece ser. O tema, como já dito, é de suma importância e o longa tem seus momentos de tensão de boa entrega. Isso, no entanto, não está próximo de torná-lo uma experiência inesquecível ou relevante, tal qual é a polêmica em volta dele.


2.5/5

Fonte: https://www.chippu.com.br/noticias/sound-of-freedom-filme-cristao-polemico-critica-e-bom-brasil