Neste domingo (21), uma significativa manifestação reuniu aproximadamente 42,4 mil pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, para erguer a voz contra a chamada Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem e, simultaneamente, rechaçar qualquer possibilidade de anistia para os envolvidos em tentativas de golpe de Estado. Este ato, considerado de grande porte, estendeu-se para outras 32 cidades brasileiras, abrangendo todas as capitais do país. O Monitor do Debate Político no Meio Digital, uma iniciativa ligada à Universidade de São Paulo (USP), foi o responsável pela estimativa do público presente, reforçando a amplitude do movimento popular.
A Mobilização Nacional Contra a Impunidade Legislativa
A pauta principal do protesto na Avenida Paulista e em diversos outros pontos do Brasil focou em duas grandes preocupações nacionais. Primeiramente, os manifestantes expressaram forte oposição à anistia para indivíduos já condenados por tentativas de ruptura democrática, incluindo aí a exigência pela prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que já acumula uma condenação de 27 anos por crimes como tentativa de golpe e organização criminosa. Em segundo lugar, houve uma contundente crítica à PEC da Blindagem, uma proposta legislativa que, se aprovada, exigiria a autorização do Congresso Nacional para processar criminalmente deputados e senadores, o que, para muitos, configuraria um escudo contra a responsabilização legal de parlamentares.
Adicionalmente, as manifestações foram organizadas por importantes frentes progressistas, como Povo Sem Medo e Brasil Popular, que mantêm laços com partidos como PSOL e PT, além de diversos movimentos sociais. Consequentemente, o evento contou com a participação robusta de sindicatos, grupos estudantis, artistas e organizações renomadas como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), demonstrando uma ampla coalizão de setores da sociedade civil engajados na defesa da democracia e na cobrança por justiça.
Vozes da Manifestação: Defesa da Democracia e do Futuro
Entre a multidão na Paulista, diversas histórias e motivações pessoais se entrelaçavam, todas convergindo para o mesmo propósito de defender a integridade democrática do país. As falas dos participantes ressaltaram a gravidade dos temas em discussão e a urgência de uma resposta popular.
A Visão dos Educadores e a Luta por Conquistas
Reginaldo Cordeiro de Santos Júnior, professor universitário de Serviço Social, veio à capital paulista especificamente para se juntar ao protesto. Ele ressaltou a importância do ato, declarando: “Estamos aqui na luta pela democracia contra a PEC da Blindagem, na luta contra todo o retrocesso do que foi conquistado em 1988”. Para ele, é fundamental que a juventude compreenda a relevância das garantias estabelecidas pela Constituição Federal, e que a sociedade traga à tona os desafios impostos pelas discussões no Congresso. Posteriormente, a professora aposentada Miriam Abramo, com 75 anos, compartilhou seu temor pela volta da ditadura no Brasil, enxergando a PEC da Blindagem como um atalho perigoso para reviver tal período. “Eu vivi a época na qual você não tinha direitos de nada”, afirmou. Ela ainda destacou que votou pela primeira vez para presidente da República aos 40 anos e expressou o desejo de que a geração atual não precise esperar tanto para exercer plenamente seus direitos democráticos.
Educação Cívica e a Importância da Ação Popular
Ainda assim, a preocupação com o futuro da democracia não se limitou aos mais experientes. Renato Tambellini, professor de artes marciais, levou sua filha Luiza, de 12 anos, ao protesto, com o intuito de incutir nela a importância da participação popular e da reivindicação de direitos. “Explico a eles que é preciso se mobilizar, reivindicar direitos”, explicou. Ele acredita que, após uma tentativa de golpe, é imprescindível que a população esteja nas ruas apoiando a consolidação da democracia e a condenação dos golpistas, um momento que considera histórico para o país.
O Grito dos Povos Originários Contra a PEC da Blindagem
Tamikuã Txih, representante do povo Pataxó, da terra indígena do Jaraguá, na zona oeste de São Paulo, também marcou presença e enfatizou que a luta pela democracia é de todos os povos. “Precisamos dizer que nós não aprovamos a PEC da Blindagem”, disse ela, argumentando que a sociedade não pode aceitar a impunidade ou as “grandes atrocidades” que futuros parlamentares possam cometer. Em suas palavras, a articulação do Congresso a favor da anistia representa uma angústia e uma vergonha para o Brasil, sendo imperativo que o povo mostre sua força nas ruas contra essa possibilidade.
Portanto, a manifestação na Paulista, ecoada por todo o país, reforçou o clamor popular por justiça, responsabilidade e pela defesa incondicional dos princípios democráticos, enviando uma mensagem clara ao Congresso Nacional e aos poderes constituídos.



